“Efetivamente, há três anos a Segurança Social deu autorização para um projeto com essa finalidade. O concurso público internacional será aberto assim que possível”, disse fonte do CHUPorto em resposta à agência Lusa, sem especificar datas.
Em causa está um projeto há muito reivindicado pelos profissionais deste centro hospitalar que inclui o Hospital de Santo António e o Centro Materno Infantil do Norte (CMIN), entre outros equipamentos.
Sandra Mota – que é assistente operacional no CMIN há seis anos e mãe de um menino de 14 e uma menina de quatro – sonha com a concretização de um projeto que fazia parte do desenho original de um equipamento hospitalar que abriu em 2014, mas cujo projeto existe desde 2008.
“Tenho de tirar a menina da cama às 05:00 e tal para a deixar na minha mãe ou na minha tia [e vir de Penafiel para o Porto]. Às vezes não tenho ninguém e tenho de trocar horários. Se existisse creche, trazia a menina e colocava-a junto a mim. Já ouvimos tanta coisa e não sabemos o que é verdade. É hoje e amanhã, hoje e amanhã e continua sempre fechado”, disse à Lusa.
Anseio semelhante tem Ana Patrícia Sousa, enfermeira da urgência do Hospital de Santo António, desde 2009, e mãe há oito meses.
“Infelizmente, [o projeto] nunca mais sai do papel. No meu serviço temos horas de entrada, mas não temos horas de saída. Tenho a certeza que se tivéssemos um serviço como a creche, a vida dos profissionais seria mais fácil. Faço transportes intra-hospitalares: às vezes às 7:00 é preciso levar um doente a Bragança ou a Mirandela, etc.”, contou.
Estes depoimentos não são novidade para Noémia Loios, médica de Medicina do Trabalho no CHUPorto.
“No meu dia a dia laboral, atendo profissionais de saúde. São pessoas que têm vida pessoal, familiar e profissional e encontram-se muitas vezes com trabalho noturno, turnos, sobrecarga de trabalho, prolongamento de horários, horas extra. É muito complexa a conciliação da vida familiar e pessoal”, disse a médica à Lusa.
Noémia Loios lembra que “a pandemia [da covid-19] veio evidenciar que é necessário resolver a situação”, porque “os jardins de infância e creches não estão a funcionar até às 20:00 ou 21:00 horas”, pelo que “quem faz o turno da tarde não tem opções na oferta externa” e “quem não tem suporte familiar, tem muitas dificuldades”.
“Esta promessa [a concretização da creche] existe desde o projeto de raiz. As instalações para este projeto existem. Estiveram fechadas, o que vai gerando degradação. Nos últimos tempos tem vindo a ser sucessivamente ocupado por outros serviços. Temo que o projeto fique abandonado. O espaço é muito apetecível”, referiu a médica.
Confrontada com este receio, fonte da administração do CHUPorto admitiu que as instalações destinadas à creche foram usadas durante o período pandémico” por razões operacionais” e, entretanto, têm vindo a ser usadas quando decorrem obras em outros serviços. Atualmente, albergam valências do serviço de Hematologia.
E, sem especificar pormenores sobre a capacidade futura do equipamento, nem avançar com estimativas para a abertura, a mesma fonte reafirmou que o espaço será usado para creche.
“Está tudo preparado para, após concurso público, a creche poder abrir no ano letivo imediatamente seguinte. Oxalá fosse já o próximo”, reagiu Noémia Loios que também pertence à Casa de Pessoal do CHUPorto, entidade que em abril de 2019 propôs ao conselho de administração do hospital o estabelecimento de um protocolo para cedência da exploração do espaço.
De acordo com a proposta à qual a Lusa teve acesso, solicitava-se ainda auxílio para o lançamento de um concurso para seleção e contratação da empresa para exploração do espaço, sublinhando que os profissionais de saúde estão a favor da criação desta infraestrutura.
Inaugurado em maio de 2014, o CMIN foi uma obra orçada em cerca de 60 milhões de euros, tendo obtido incentivos comunitários, em sede de FEDER (Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional), de 30,1 milhões de euros.
O projeto contemplou a construção de um novo edifício, a reconstrução do edifício da antiga Maternidade Júlio Dinis e a construção de um parque de estacionamento subterrâneo sobre o qual foi edificado um pequeno edifício que iria albergar uma creche.
Em março, ouvida pela Lusa, a presidente da Casa do Pessoal, Teresa Marques, explicou que, para avançar, o projeto estava dependente da concretização de alterações impostas por uma lei de 2011 e contou que tem vindo a fazer vários pedidos de esclarecimento à administração do hospital.
Nessa data, à Lusa, o CHUPorto disse que “ainda subsistem questões de natureza legal que deverão ser ultrapassadas” e realçou que nada vincula este centro hospitalar a uma associação de direito privado independente, referindo-se à Casa do Pessoal que já se constituiu, para o efeito, como Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS).
LUSA/HN
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