Segundo um comunicado de imprensa enviado a agência Lusa, o novo estudo liderado por cientistas do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNC-UC), agora publicado na revista científica Nature Communications, mostrou que a bactéria S. aureus “tem um estilo de vida intracelular (no interior da célula hospedeira) predominante, o que pode justificar a mudança dos critérios clínicos para escolha de antibióticos contra esta bactéria”.
A S. aureus é uma bactéria frequentemente encontrada na pele e nas fossas nasais de pessoas saudáveis, explicou a UC, ao adiantar que pode provocar doenças que vão desde simples infeções na pele (abcessos, celulite) até a infeções mais graves, como pneumonia, endocardite, bacteremia (infeção no sangue), entre outras.
O estudo apresenta uma análise em larga escala de 191 isolados clínicos de S. aureus, provenientes de doentes com osteomielite (infeção óssea), artrite infecciosa, bacteremia e endocardite, e a sua interação com vários tipos de células hospedeiras (células alvo da bactéria) ao longo do tempo.
Miguel Mano, um dos líderes do estudo, adiantou que a investigação revelou que, “apesar de a S. aureus ser normalmente descrita como sendo um patógeno extracelular, a quase totalidade dos isolados clínicos de S. aureus testados neste estudo (mais de 98%) foram internalizados por vários tipos de células hospedeiras, em contexto laboratorial”.
“Foi ainda provado que uma grande parte destes isolados tem capacidade de replicar e persistir no interior das células hospedeiras”, acrescentou o investigador no CNC-UC e docente no Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra – FCTUC).
Com estes resultados é evidenciada a necessidade de uma mudança no paradigma no tratamento de infeções por S. aureus.
“A escolha da terapia para eliminar efetivamente este patógeno deverá considerar não só o perfil de suscetibilidade da bactéria a antibióticos, como é feito atualmente, mas também os diversos estilos de vida intracelular da S. aureus”, constatou outra líder deste estudo, Ana Eulálio.
Segundo a também investigadora no CNC-UC e no iBiMED, Universidade de Aveiro, a “terapia escolhida deverá assegurar a sua eliminação no interior das células, pois a falta de efeito intracelular dos antibióticos pode levar à falha do tratamento, traduzindo-se em infeções recorrentes ou crónicas”.
As bactérias multirresistentes a antibióticos são cada vez mais comuns, o que dificulta seriamente o tratamento de infeções bacterianas, referiu a Universidade de Coimbra, explicando que a S. aureus é uma bactéria que apresenta resistência a diversos antibióticos e constitui atualmente a segunda causa mais comum de morte associada à resistência antimicrobiana a nível mundial e a primeira em Portugal.
Este trabalho foi realizado em colaboração com investigadores do Centro Internacional de Investigação em Infecciologia (CIRI) (Lyon, França), Centro Nacional de Referência para Estafilococos, Instituto de Agentes Infecciosos (Lyon, França) e Centro de Biotecnologia, Conselho Nacional de Investigação de Espanha (CNB-CSIC).
A investigação contou com financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia, do Consórcio ERA-NET Infect-ERA e do European Horizon 2020 Marie Sklodowska-Curie.
LUSA/HN
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