Estudo conclui que inspeção visual pode ser insuficiente para detetar Tuberculose Bovina

27 de Dezembro 2022

Investigadores do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) concluíram que apenas usar inspeção visual em bovinos mais jovens pode ser "insuficiente" para a deteção da Tuberculose Bovina, defendendo a importância da inspeção 'post mortem' para identificar lesões.

De acordo com uma nota divulgada esta segunda-feira no ‘site’ da Universidade do Porto, o estudo, publicado na revista científica One Health, comprova a “importância da inspeção ‘post mortem’ na identificação de lesões de Tuberculose Bovina, e o seu contributo para o respetivo plano de erradicação”.

O estudo, que contou com a colaboração da Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) e da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), sustenta ainda a decisão da DGAV de “não implementar a proposta da legislação europeia de alteração do protocolo de inspeção sanitária de carne bovina”.

A regulamentação europeia define, através do Regulamento de Execução 2019/627, novas regras nos controlos oficiais de géneros alimentícios, em particular, na inspeção sanitária de carnes.

Citada no documento, a docente do ICBAS, Eduarda Gomes Neves, esclarece que a regulamentação europeia prevê que “a inspeção sanitária da carne de bovinos possa ser tendencialmente visual nos animais até aos oito meses e entre os oito e os 20 meses, se estes forem criados em ambiente controlado, sem contacto com o meio exterior”.

Estas alterações “podem ter impacto na deteção desta zoonose [doença ou infeção transmissível entre animais vertebrados e seres humanos] e diminuir a eficiência do Plano Nacional de Erradicação da Tuberculose Bovina, em vigor desde 1991”, sustenta a nota.

No estudo, os investigadores analisaram dados (idade, sexo, condição física, raça, lesões) de casos suspeitos e confirmados de Tuberculose Bovina detetados durante o abate ao longo de 10 anos (entre outubro de 2010 e janeiro de 2020), tendo concluído que “utilizar apenas a inspeção visual em bovinos mais jovens poderá ser insuficiente para a deteção da Tuberculose Bovina”.

Entre os 3.279.548 animais abatidos nesse período, a inspeção em abate detetou 808 casos suspeitos, sendo que destes, 381 foram confirmados em laboratório.

De acordo com o estudo, a taxa de confirmação e o número de casos confirmados atingiram valores mais altos em 2018 e 2019, tendo a tendência sido crescente de 2015 a 2020.

“A prevalência global estimada em 10 anos foi de 11,6 casos por 100 mil bovinos”, refere o estudo, notando que a prevalência da doença foi superior em fêmeas e em bovinos de corte.

“Com base nos resultados, não há evidência de impacto negativo na aplicação do Regulamento 2019/627 sobre vigilância de Tuberculose Bovina em animais com oito meses ou mais”, contudo, defendem os investigadores, para o grupo de bovinos com menos de oito meses “a mudança de protocolo de inspeção visual pode levar a uma falha na deteção de casos”.

“Um exame ‘post mortem’ no matadouro constitui um método de vigilância adicional para detetar casos que podem ter sido perdidos em programas de testes anteriores”, destacam os autores, notando que quase metade dos casos suspeitos detetados na linha de abate foram, posteriormente, confirmados como positivos em laboratório.

Citada na nota, a investigadora e médica veterinária Eduarda Gomes Neves salienta que “no contexto atual ainda não faz sentido suprimir a incisão nos tecidos dos animais com idade inferior a oito meses, sob pena de poder ser aprovada para o consumo humano carne de animais com lesões”.

“Fornecemos dados robustos que suportam a necessidade de manter os procedimentos anteriores, não flexibilizando, neste momento, a inspeção sanitária de bovinos”, acrescenta a investigadora.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Promessas por cumprir: continua a falta serviços de reumatologia no SNS

“É urgente que sejam cumpridas as promessas já feitas de criar Serviços de Reumatologia em todos os hospitais do Serviço Nacional de Saúde” e “concretizar a implementação da Rede de Reumatologia no seu todo”. O alerta foi dado pela presidente da Associação Nacional de Artrite Reumatoide (A.N.D.A.R.) Arsisete Saraiva, na sessão de abertura das XXV Jornadas Científicas da ANDAR que decorreram recentemente em Lisboa.

Consignação do IRS a favor da LPCC tem impacto significativo na luta contra o cancro

A Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) está a reforçar o apelo à consignação de 1% do IRS, através da campanha “A brincar, a brincar, pode ajudar a sério”, protagonizada pelo humorista e embaixador da instituição, Ricardo Araújo Pereira. Em 2024, o valor total consignado pelos contribuintes teve um impacto significativo no apoio prestado a doentes oncológicos e na luta contra o cancro em diversas áreas, representando cerca de 20% do orçamento da LPCC.

IQVIA e EMA unem forças para combater escassez de medicamentos na Europa

A IQVIA, um dos principais fornecedores globais de serviços de investigação clínica e inteligência em saúde, anunciou a assinatura de um contrato com a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) para fornecer acesso às suas bases de dados proprietárias de consumo de medicamentos. 

SMZS assina acordo com SCML que prevê aumentos de 7,5%

O Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS) assinou um acordo de empresa com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) que aplica um aumento salarial de 7,5% para os médicos e aprofunda a equiparação com a carreira médica no SNS.

“O que está a destruir as equipas não aparece nos relatórios (mas devia)”

André Marques
Estudante do 2º ano do Curso de Especialização em Administração Hospitalar da ENSP NOVA; Vogal do Empreendedorismo e Parcerias da Associação de Estudantes da ENSP NOVA (AEENSP-NOVA); Mestre em Enfermagem Médico-cirúrgica; Enfermeiro especialista em Enfermagem Perioperatória na ULSEDV.

DGS Define Procedimentos para Nomeação de Autoridades de Saúde

A Direção-Geral da Saúde (DGS) emitiu uma orientação que estabelece procedimentos uniformes e centralizados para a nomeação de autoridades de saúde. Esta orientação é aplicável às Unidades Locais de Saúde (ULS) e aos Delegados de Saúde Regionais (DSR) e visa organizar de forma eficiente o processo de designação das autoridades de saúde, conforme estipulado no Decreto-Lei n.º 82/2009.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights