“Estamos a assistir a um cenário preocupante em que o conflito e os acontecimentos climáticos extremos estão a agravar o desencadeamento da cólera e a aumentar o seu custo em vidas”, disse a diretora regional da Organização Mundial da Saúde (OMS) para África, Matshidiso Moeti, através de uma declaração.
Com surtos ativos desde o início de 2023 em dez países, África registou cerca de 26.000 casos e 660 mortes, só em janeiro, de acordo com a OMS, enquanto quase 80.000 casos e 1.863 mortes foram detetados em 15 países no ano passado.
Em países como a Etiópia, Somália e Quénia, os surtos foram agravados pela seca devastadora no Corno de África, a pior dos últimos 40 anos, que forçou a deslocação maciça da população e dificultou o acesso à água e ao saneamento.
Países como a Nigéria, Burundi, Camarões, Zâmbia, Moçambique e a República Democrática do Congo (RDCongo) também foram afetados, onde a província com mais casos é o Kivu do Norte, atingida pela violência dos grupos armados que operam no nordeste do país.
Nesta província, que é montanhosa em muitas áreas – o que significa que a população só tem acesso a água potável quando esta é transportada por camião -, o reinício dos combates em março passado entre os rebeldes do Movimento 23 de Março (M23) e o exército congolês levou à deslocação de mais de meio milhão de pessoas.
Contudo, o país mais duramente atingido foi o Maláui, onde um surto declarado em março se tornou o “mais mortal” da sua história, com 40.284 casos e 1.316 mortes até à data, de acordo com os últimos dados do Ministério da Saúde do país, citados pela OMS.
“Se a tendência atual de rápido crescimento continuar, poderá ultrapassar o número de casos registados em 2021, o pior ano de cólera de África em quase uma década”, advertiu a OMS.
Além disso, a taxa de mortalidade da doença no continente é quase de 3%, acima do limiar de 1% estabelecido pela organização.
A multiplicação de casos a nível mundial, com 18 países afetados, colocou “grande pressão” sobre a disponibilidade de vacinas a nível mundial, disse a OMS, forçando o grupo que gere o stock internacional (OMS, Médicos Sem Fronteiras, Federação Internacional da Cruz Vermelha e Unicef) a reduzir, em outubro passado, as doses administradas, de duas para uma.
Neste contexto, o Maláui anunciou em meados de janeiro que tinha esgotado todas as doses de que dispunha para enfrentar o surto, uma situação que ainda tem de remediar, afirmou o secretário da Saúde do Ministério da Saúde malauiano, Charles Mwansambo, durante uma conferência de imprensa online.
“Após um carregamento de 1,9 milhões de vacinas em abril e outros 2,9 milhões em novembro, não recebemos mais nenhum até agora”, admitiu Mwansambo, sublinhando que “as principais medidas preventivas contra a cólera são a água, o saneamento e a higiene”.
A cólera é uma doença diarreica aguda causada pela ingestão de alimentos ou água contaminada com o bacilo vibrio cholerae.
Segundo a OMS, continua a ser “uma ameaça global para a saúde pública e um indicador de desigualdade e de falta de desenvolvimento”.
LUSA/HN
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