Peritos pedem incentivos à doação de plasma

3 de Março 2023

O plasma recolhido em Portugal é insuficiente para as necessidades, conclui um relatório hoje publicado, que alerta para a dependência nacional nesta área e aponta a necessidade de definir uma estratégia de incentivo à dádiva

O documento, apresentado no passado dia 14 na Ordem dos Médicos, refere que, nos últimos anos, a média de plasma colhido em Portugal se tem mantido nos 60.000 litros por ano, um volume que “é insuficiente para as necessidades nacionais em medicamentos derivados do plasma”.

“É imperativo desenvolver estratégias que permitam aumentar, quer as doações de sangue total, quer a doação de plasma”, referem os peritos que elaboraram o relatório, lembrando que Portugal está longe de atingir a autossuficiência de medicamentos derivados do plasma.O estatuto do dador de sangue “apresenta poucas compensações para os dadores, o que cria desincentivos à doação”, lembram os peritos, sublinhando que, em 2021, cerca de 30 mil pessoas registadas como dadores não efetuaram doação.

“Os países que apresentam compensações que mitigam as despesas do dador são os que têm maior número de doações”, insistem.

O documento, elaborado pela WISE Health Solutions — uma consultora na área da saúde – diz que tem aumentado o consumo de medicamentos derivados de plasma e que é previsível que este aumento se mantenha nos próximos anos, “devido à identificação de novas indicações terapêuticas e ao aumento do consumo por parte dos países emergentes”.

Alerta igualmente que a redução de preços pode levar à escassez de medicamentos derivados de plasma e sublinha que “Portugal tem dos preços mais baixos da Europa” nestes medicamentos.

O plasma é o principal constituinte do sangue, correspondendo a aproximadamente 55% do seu volume. É constituído por uma mistura de água, sais e proteínas. A albumina, as imunoglobulinas, os fatores de coagulação e o fibrinogénio são os principais elementos do plasma.

Os componentes do plasma têm múltiplas utilizações terapêuticas, nomeadamente, o tratamento de doenças da coagulação, doenças imunológicas e situações de trauma. Pode ser utilizado para transfusão ou como matéria-prima para o para fabrico de medicamentos.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica o plasma e os derivados que resultam do seu processamento como medicamentos essenciais, o que significa que são necessários para satisfazer as necessidades prioritárias de saúde da população.

No relatório, os peritos lembram que o novo regulamento europeu para as substâncias de origem humana destaca a importância de os países europeus desenvolverem independência estratégica relativamente aos medicamentos derivados do plasma.

O documento, que será apresentado numa cerimónia que contará com a presença do ex-presidente do Infarmed Eurico Castro Alves e do ex-presidente do Instituto Português do Sangue e da Transplantação Álvaro Beleza, chama ainda a atenção para a necessidade de “flexibilizar os critérios de contração para o aproveitamento do plasma colhido em Portugal”

Recorda que, em Portugal, todo o plasma é obtido a partir da doação de sangue total, uma vez que não existem centros de plasmaférese – um processo extracorporal em que o sangue retirado do paciente é separado nos seus componentes plasma e elementos celulares — e sublinha que os países que mais se aproximam da autossuficiência são os que desenvolvem estratégias de colheita de plasma em centros públicos e/ou privados através desta técnica.

“A recente crise da covid-19 demonstrou a fragilidade dos mercados, sendo que vários países exportadores suspenderam ou condicionaram as exportações por forma a garantir que as suas necessidades estavam preenchidas”, sublinha.

O relatório diz ainda que, “apesar da execução do disposto nos diferentes planos estratégicos e da criação da REM [Reserva Estratégia do Medicamento], continua a não existir evidência da existência de uma reserva estratégica de plasma e de medicamentos derivados do plasma”.

NR/HN/Lusa

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

APDP apresenta projeto “Comer Melhor, Viver Melhor” no Parlamento Europeu

Uma alimentação que privilegie um maior consumo de produtos vegetais, quando planeada equilibradamente, pode contribuir para melhorar os resultados em saúde nas pessoas com diabetes tipo 2, evidencia o projeto “Comer Melhor, Viver Melhor”, apresentado pela APDP no Parlamento Europeu no passado dia 18 de abril.

SIM recebeu 65 candidaturas às Bolsas Formativas

O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) anunciou hoje que recebeu 65 candidaturas às Bolsas Formativas para apoio à frequência de cursos habilitadores à Competência em Gestão dos Serviços de Saúde.

Abertas inscrições para as jornadas ERS

A Entidade Reguladora da Saúde (ERS) vai realizar no próximo dia 23 de maio a terceira edição das Jornadas ERS – Direitos e Deveres dos Utentes dos Serviços de Saúde. As inscrições já se encontram abertas.

CUF assegura cuidados de saúde a atletas do Rio Maior Sports Centre

A CUF e a DESMOR celebraram um protocolo de cooperação que assegura a articulação do acesso dos atletas em treino no Rio Maior Sports Centre a cuidados de saúde nos hospitais e clínicas CUF. O acordo foi formalizado a 30 de abril no Centro de Estágios de Rio Maior.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights