“Não há abrandamento da incidência”, aponta o diretor do serviço de Doenças Infeciosas do Centro Hospitalar de Lisboa Central. Segundo o especialista, “a pandemia prejudicou o acesso dos doentes aos centros de vigilância e os esforços de controlo da tuberculose. Houve uma diminuição nas tomas assistidas, mais casos não acompanhados, menor rastreio e menos diagnósticos”. A deteção de tuberculose caiu em 60%, o que conduzirá a maior mortalidade. “De acordo com as últimas previsões – acrescenta –, no pior dos cenários, haverá no mundo mais seis milhões de mortes em 2025, um crescimento de 20%”. A situação em Portugal não diverge desta tendência pelo que é necessária redobrada atenção”.
“Os efeitos da covid-19 são semelhantes aos que se registaram em 1918, com a gripe espanhola, tendo havido, nessa altura como agora, deterioração do estado imunitário da população, o que abre espaço à propagação da tuberculose”. A este fator, junta-se a chegada ao nosso país de pessoas mais vulneráveis, imigrantes de zonas geográficas menos protegidas em termos de vacinação, como a África Subsariana ou a Europa de Leste, conclui Fernando Maltez.
A tuberculose é uma das doenças infeciosas mais mortais do mundo, levando à morte de mais de quatro mil pessoas por dia e com impacto devastador a nível sanitário, social e económico.
A Organização Mundial de Saúde tem sublinhado a urgência de investir os recursos necessários para intensificar a luta contra a tuberculose e concretizar os compromissos para acabar com a doença. Em 2018, os líderes mundiais concordaram mobilizar 13 mil milhões de dólares por ano para financiar a prevenção e o tratamento da tuberculose até 2022. E para fazer face às crescentes preocupações com a tuberculose resistente aos medicamentos, prometeram mobilizar outros dois mil milhões de dólares/ano para a investigação nesta área. Mas o financiamento destinado à prevenção, diagnóstico e tratamento da doença continua aquém das necessidades e do objetivo global das Nações Unidas. Em 2020, a despesa mundial em cuidados com a tuberculose caiu para pouco mais que 5 mil milhões de dólares, tendo sido destinados menos que mil milhões à investigação. Em África, por exemplo, os governos dedicam apenas 22% dos recursos necessários ao combate à tuberculose, deixando 44% desses recursos por financiar, o que compromete os esforços para reduzir a incidência e os efeitos da tuberculose.
Ao ritmo atual, não será possível atingir a meta dos objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas que visava pôr fim à epidemia de tuberculose até 2030. Pela primeira vez em mais de uma década, o mundo assistiu em 2021 a um aumento do número de mortes provocados por esta doença.
NR/PR/HN
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