A conclusão é do estudo realizado pela Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa (ENSP-NOVA) e Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) sobre a Tuberculose em contexto urbano, no âmbito do projeto de investigação URBAN TB.
Para caracterizar os fatores individuais e contextuais na demora ao diagnóstico da Tuberculose, com foco nos grupos vulneráveis, os investigadores do URBAN TB fizeram a análise dos dados do Sistema de Vigilância Intrínseco da Tuberculose (SVIG-TB) do Programa Nacional de Luta Contra a Tuberculose entre 2008 e 2017.
Neste contexto, a demora no diagnóstico foi classificada em duas abordagens: “A demora atribuída ao paciente, que consiste no período desde o início dos sintomas até a procura dos cuidados médicos. E a demora atribuída ao sistema de saúde que é caracterizada pelo período que começa com os primeiros contactos entre o doente e o médico até o diagnóstico da doença”, explica Patrícia Soares, investigadora.
Segundo o estudo, a demora no diagnóstico da Tuberculose atribuível ao paciente aumentou de 33 dias em 2008 para 44 dias em 2017, enquanto que a demora atribuível aos serviços de saúde manteve-se constante ao longo dos anos, traduzindo em cerca de dez dias.
Entre as razões da elevada demora atribuída ao paciente estão os fatores como ser estrangeiro e ser dependente de álcool. Esta demora foi superior na região de Lisboa e Vale do Tejo comparando com as restantes regiões, menos em 2015 quando o Algarve apresentou a maior demora de paciente.
Ao comparar a demora atribuível aos serviços de saúde entre mulheres e homens, os investigadores depararam com uma diferença estatisticamente significativa entre os géneros para todas as regiões, exceto o Algarve, sendo os doentes do sexo feminino os que mais esperaram para receber o diagnóstico.
“Quanto maior a demora no diagnóstico mais aumenta a transmissibilidade do caso que ainda não foi tratado, e quanto mais tempo demora a ser tratado mais probabilidade tem para desenvolver doenças mais severas e tornar-se num caso mais difícil de tratar, o que pode levar até a mortalidade”, esclarece a investigadora.
O objetivo do projeto URBAN TB é contribuir para a redução do tempo até ao diagnóstico, levando a uma redução da transmissibilidade da Tuberculose, um grande desafio global de saúde pública. Nas grandes cidades da Europa Ocidental, incluindo Portugal, tem sido observada uma tendência entre estável e ascendente na incidência da doença. A infeção é transmitida a partir dos doentes contaminados por via de tosse, espirros ou fala, libertando gotículas que transportam as bactérias bacilo de koch.
“Realçamos que o abuso de álcool e estar desempregado foram identificados como fatores associados a uma maior demora atribuível ao paciente, e menor demora atribuível aos serviços de saúde. De forma semelhante, indivíduos com doença respiratória tem maior risco de demora atribuível aos serviços de saúde, mas menor risco de demora atribuível ao paciente, em áreas com baixa incidência. Estes resultados sugerem que intervenções em subgrupos da população, nomeadamente os abordados nesta análise, pode levar a uma redução da demora no diagnóstico de Tuberculose”, indica Patrícia Soares.
No âmbito do estudo foram realizados dois workshops e publicados nove artigos científicos, resultante de um trabalho de equipa formado por Carla Nunes (ENSP-NOVA), Raquel Duarte (ISPUP), Ana Aguiar (ISPUP), Andreia Leite (ENSP-NOVA), Bruno de Sousa (UC), Dulce Gomes (UE), João Almeida Santos (ENSP-NOVA), Marta Moniz (ENSP-NOVA), Patrícia Filipe (UE) e Patrícia Soares (ENSP-NOVA).
Numa segunda etapa do projeto pretende-se trazer os resultados do questionário aplicado a alguns Agrupamento dos Centros de Saúde (ACES) da região do Porto e de Lisboa que buscou recolher mais informações junto as pessoas afetadas pela Tuberculose para complementar a pesquisa inicial.
NR/HN/ENSP
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