Artrite reumatoide afeta cerca de 70.000 portugueses

4 de Abril 2023

Na semana em que se assinala o Dia Nacional do Doente com a Artrite Reumatoide, a Sociedade Portuguesa de Reumatologia e a A.N.D.A.R. alertam para a importância de detetar precocemente a doença, que afeta cerca de 70.000 portugueses.

A artrite reumatoide é uma doença reumática crónica, inflamatória, imunomediada, que se caracteriza pela inflamação das articulações (principalmente mãos, punhos, joelhos e pés) e que pode levar à destruição do tecido articular e periarticular, com incapacidade potencialmente elevada. Tratando-se de uma doença sistémica, pode atingir outros órgãos e sistemas, como os pulmões, o coração, os olhos, entre outros.

Segundo o médico José Costa, reumatologista na Unidade Local de Saúde do Alto Minho (ULSAM) e coordenador do Grupo de Estudos da Artrite Reumatoide (GEAR) da Sociedade Portuguesa de Reumatologia: “A Artrite Reumatoide não tem uma causa conhecida, mas pensa-se que nos doentes com esta condição o sistema imunitário não funciona adequadamente, havendo produtos do sistema imune que reagem contra os tecidos do doente, desencadeando uma reação inflamatória local e sistémica, em todo o organismo”.

Os sintomas mais comuns e que devem levar os doentes a procurar ajuda são a dor e a inflamação articular, que se traduz habitualmente por inchaço, vermelhidão e aumento da temperatura nas articulações afetadas, gerando incapacidade para as mover corretamente, podendo haver uma sensação de rigidez nos movimentos, especialmente nas primeiras horas da manhã.

Apesar de a doença não ter cura, se detetada precocemente, pode melhorar significativamente o prognóstico dos doentes. O tratamento precoce, através de uma supressão da inflamação nos estágios iniciais da doença, pode resultar em menos incapacidade e sofrimento. Uma correta e atempada identificação de sinais ou sintomas e referenciação para o reumatologista são peça-chave para um diagnóstico célere e rápida implementação de medidas terapêuticas que, comprovadamente, diminuem o impacto da doença, sendo possível, em muitos casos, devolver ao doente uma vida perfeitamente normal.

Apesar de ainda não existir um tratamento único com uma taxa de sucesso absoluta, a artrite reumatoide é um dos campos da reumatologia que tem sido mais estudado nos últimos anos.

O médico reumatologista José Costa acrescenta: “Seja pela sua prevalência, seja pelo impacto que tem, os reumatologistas e a comunidade científica em geral têm desenvolvido diversos estudos com vista a melhorar a abordagem e tratamento desta doença. Novas classes terapêuticas têm vindo a ser estudadas em ensaios clínicos, desde os fármacos biotecnológicos até novos fármacos de síntese, com mecanismos de ação diferentes, com taxas de sucesso mais relevantes.”

Laurinda Martins, de 68 anos, é um exemplo de como a medicação desadequada pode ter um impacto negativo na vida do doente. Em 2017, Laurinda foi diagnosticada com artrite reumatoide e rapidamente começaram a aparecer sintomas, tais como perda de mobilidade, dores muito fortes constantes e consequente dificuldade em dormir.

“Atualmente Laurinda encontra-se acamada desde janeiro, sem tratamento adequado, pois a Comissão de Farmácia e Terapêutica do Hospital não aceita a dispensa do medicamento à doente. A A.N.D.A.R – Associação Nacional dos Doentes com Artrite Reumatoide está a apoiar esta doente na procura de solução para o seu tratamento e quer a revogação da Portaria 99/2022, que determina ser competência da Comissão Nacional de Farmácia e Terapêutica a definição dos critérios de utilização dos medicamentos, sendo esta a decidir sobre a dispensa da medicação”, explica o comunicado da Sociedade Portuguesa de Reumatologia e da A.N.D.A.R.

Laurinda é dependente do marido, que realiza as tarefas do dia a dia, como cozinhar, limpar a casa e levantar a Laurinda da cama. Esta acrescenta: “Tive cancro em 2020, encontro-me em remissão, mas nunca sofri tanto como sofro com a artrite reumatoide”.

Natália Machado, de 69 anos, recebeu o diagnóstico de artrite reumatoide surgiu há 10 anos. “Nessa altura, trabalhava no apoio ao domicílio a Idosos e na Santa Casa da Misericórdia e teve de optar por fazer o trabalho mais leve devido às limitações da doença. Nas fases mais complicadas da doença, não conseguia colocar os pés no chão, estender roupa com molas, não conseguia cozinhar e não conseguia dormir com dores no ombro. Há cerca de dois anos, finalmente conseguiu a medicação adequada que lhe mudou a vida, os sintomas desapareceram e atualmente sente-se como se já não tivesse a doença”, acrescenta o comunicado.

PR/HN/RA

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