“A pandemia nunca interrompeu a admissão de alunos internacionais, só que eles tiveram de o fazer em condições difíceis, através da plataforma ‘zoom’ e aulas ‘online’, porque nós demos sempre aulas ‘online’ até dezembro”, referiu o vice-reitor para os Assuntos Globais da Universidade de Macau (UM), Rui Martins.
“Houve alunos de licenciatura que estiveram três anos fora e que só agora estão a regressar ao campus para o primeiro ano [presencial]”, continuou o responsável. “Com alguns alunos de mestrado as coisas foram um pouco suspensas, só agora estão a regressar para fazer a tese”.
Macau, que à semelhança do interior da China seguiu a política ‘zero covid’, cancelou apenas em janeiro deste ano a maioria das medidas de prevenção e contenção, após quase três anos de rigorosas restrições, que incluíram quarentenas e a proibição da entrada de não-residentes no território.
Apesar disso, Rui Martins, responsável “pela área dos alunos internacionais”, admitiu que houve “um pequeno aumento” das inscrições do exterior: “um pouco menos do que 30%”.
“A previsão que eu tinha era multiplicar o número de alunos de cento e pico por cinco, para 500, e isso não conseguimos – se não houvesse pandemia quase de certeza conseguíamos este ano – mas aumentámos para perto de 200 e esses alunos internacionais ficaram fora [de Macau durante a pandemia]”, explicou.
Além destes estudantes internacionais, que completam integralmente os estudos académicos na UM, a instituição de ensino superior recebe ainda alunos de intercâmbio – “à volta de 200 alunos” antes do aparecimento da covid-19. “E tínhamos um número igual de alunos nossos que iam fazer esse intercâmbio na Europa, Estados Unidos, etc, e isso com a pandemia foi a zero”, lembrou.
Martins, um dos cinco vice-reitores da UM, admitiu que durante a crise sanitária, “a capacidade que se instalou” em termos de oferta de aulas e conferências à distância, “foi importante” para que houvesse progressão académica.
A UM tinha, no primeiro semestre deste ano letivo, 7.515 alunos em licenciaturas, 59 em pós-graduações, 3.368 a fazer mestrados e 1.836 doutorandos, num total de 12.778 alunos inscritos, de acordo com o ‘site’ da instituição. Um ligeiro aumento – quase 5% – em relação ao ano anterior (12.208).
Cerca de 80 alunos são provenientes de Países de Língua Portuguesa (PLP), sendo que “talvez cerca de 80%” frequentem estudos na área do Direito, notou o vice-reitor. “Nós aqui somos apoiados pela Fundação Macau, aumentámos o numero de bolsas que demos a alunos internacionais, que também cobre o numero de alunos africanos [dos PLP] e, portanto, espero que esse numero venha a aumentar”.
Nos planos da universidade para os próximos três anos, avançou ainda o vice-reitor, está um crescimento do volume de inscritos para entre “15 e 17 mil”, com a aposta a ser direcionada para cursos pós-graduados.
A UM avançou esta semana que vai lançar, no próximo ano letivo, seis novos mestrados, em Inteligência Artificial, Robótica e Sistemas Autónomos, Ambiente Costeiro e Segurança, Materiais Inovadores, Gestão Médica e ainda Filosofia.
Através dos novos programas, lê-se num comunicado, a instituição quer “formar mais profissionais de alta qualidade para apoiar o desenvolvimento das indústrias emergentes e ajudar Macau na transformação económica”.
“Os alunos de pós-graduação vêm essencialmente da China”, declarou Rui Martins, considerando que a UM atrai “cada vez mais alunos de topo”.
“Há cerca de dez, 20 anos, os alunos da China que se candidatavam aqui à universidade eram alunos medianos. (….) Agora compete com a [universidade de Pequim] Tsinghua, agora são alunos de muito alto nível que se candidatam, essencialmente para mestrado, mas também para doutoramento”, disse.
Sobre a oferta de língua portuguesa, o investimento passa por “manter os programas”, com o responsável a considerar a possibilidade de “recrutar mais professores” na área da Literatura. “Em tempos tivemos essa área, mas alguns professores foram embora e podemos tentar desenvolver mais essa área”, disse.
Rui Martins lembrou ainda “um plano de contingência”, delineado para o período após a transferência do exercício da soberania de Macau para a China, em 1999, “para o caso de o programa de Direito em português acabar por falta de alunos”.
“Estávamos com essa perspetiva, porque o número de alunos estava a cair, houve uma altura de crise, mas depois foi criado aqui o Fórum [para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os PLP], em 2013, e então essa área manteve-se”, reforçou.
Rui Martins, que falava à agência Lusa numa entrevista alargada, foi ainda questionado se a Universidade de Macau desencoraja os docentes a falarem à comunicação social. O responsável respondeu negativamente. “O que pode haver é a questão, como é muito referido, da autocensura, mas isso a universidade não tem muito a ver com isso”, afirmou.
A Lusa tem tido cada vez mais dificuldade em contactar académicos para analisar assuntos da atualidade, com docentes a explicarem que são desencorajados de falar com os ‘media’.
LUSA/HN
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