A medicina está progressivamente a afastar-se da sua forma tradicional, assente na participação e valorização humana, para se basear cada vez mais na tecnologia, argumentou um novo movimento cívico que quer humanizar os cuidados de saúde em Coimbra.
Com apresentação pública agendada para a próxima quinta-feira, pelas 15:00, no Seminário Maior de Coimbra, o movimento Humanizar a Saúde alegou, em comunicado enviado à agência Lusa, que “a humanização dos cuidados de saúde tem sido uma preocupação, desde sempre, mas a sua necessidade é agora sentida como ainda mais urgente”.
Essa urgência decorre da necessidade de uma “relação de confiança a estabelecer com a pessoa doente, através de uma eficaz capacidade de comunicação, de respeito, de empatia e de compaixão”, ou seja, exige-se “um contacto humano que, naturalmente, a tecnologia não pode disponibilizar”.
“A tecnologia é sem dúvida muito útil no diagnóstico e tratamento das patologias, mas não pode relegar para um segundo plano as ligações humanas fundamentais para o estabelecimento de uma boa relação com o doente”, acrescentou o novo movimento.
O grupo integra uma equipa de coordenação “constituída por personalidades de Coimbra prestigiadas na área da humanização em saúde”, onde se incluem o médico João Pedroso de Lima, especialista em Medicina Nuclear do Centro Hospitalar e Universitário (CHUC), o padre Nuno Santos, reitor do Seminário Maior, a advogada Filomena Girão e a psicóloga Marcela Matos.
Integram ainda a coordenação do movimento Helena Albuquerque, presidente da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM – Coimbra), Teresa Pereira Monteiro, diretora de formação da Fundação Bissaya Barreto e Joana Araújo, da Coimbra Coolectiva.
Na nota de imprensa, o novo movimento cívico frisou, por outro lado, que “nem só o predomínio da tecnologia e as preocupações financeiras constituem dificuldades à humanização dos cuidados de saúde”.
“Também as dificuldades individuais de relacionamento interpessoal, de capacidade de comunicação, de criação de empatia, são muitas vezes, por si só, limitações importantes à prestação dos cuidados que devem ser prestados a cada pessoa doente. A sociedade é agora mais individualista, com as pessoas mais centrados em si mesmo e menos sensíveis a sentimentos como a empatia e a compaixão”, considerou.
Defendeu ainda que “para se atingir um elevado nível de qualidade assistencial”, a humanização dos cuidados “tem de ser considerada pelas estruturas dirigentes da Saúde como estando no mesmo patamar de importância que se atribui aos aspetos puramente técnicos”.
“No entanto, são ainda muitos aqueles que, entre nós, desvalorizam ou menorizam a verdadeira importância que a humanização deve ter nos cuidados de saúde. A crise de empatia e compaixão que hoje se vive na sociedade em geral assume, naturalmente, uma maior gravidade na Saúde e, infelizmente, Coimbra não é, em relação a isso, uma exceção”, avisaram.
A esse propósito, o movimento aludiu aos resultados de um inquérito “recentemente efetuado” no âmbito da iniciativa Geração Coolectiva, em que 98% das 497 respostas obtidas “indicaram a necessidade de mais humanização nos cuidados de saúde prestados em Coimbra” e 74% “referiram ter tido já experiências negativas quanto à humanização dos cuidados prestados em instituições de saúde da cidade”.
Na nota de imprensa, o movimento Humanizar a Saúde em Coimbra anunciou já algumas iniciativas, nomeadamente a realização de palestras, seminários e formações, como uma formação dedicada a estudantes de medicina, de enfermagem e de técnicas de saúde e outra dedicada a alunos do ensino secundário.
A divulgação de casos de sucesso em humanização existentes em instituições de saúde da cidade, uma formação de âmbito genérico para promover a valorização do cuidar e da humanização em cuidados de saúde e a criação de uma Provedoria do Doente, que pretende “atuar através da análise e discussão de situações concretas” são outras das iniciativas previstas.
O novo movimento contará ainda com uma Assembleia de Colaboradores, a constituir por todos os que se revejam nos seus objetivos, desde voluntários individuais, instituições de saúde públicas e privadas, escolas, ordens profissionais ou associações de doentes, entre outros.
“A promoção da humanização dos cuidados de saúde pela sociedade civil será, portanto, também, um verdadeiro exercício de cidadania”, referiu o movimento Humanizar a Saúde em Coimbra.
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