“Agora que os centros de saúde já estão a funcionar com alguma regularidade, o envio de doentes para consulta e cirurgia tem, efetivamente, aumentado”, adiantou à Lusa Rosa Valente de Matos, no dia em que abre no CHULC o primeiro Centro de Responsabilidade Integrado (CRI) do país dedicado às patologias da coluna para responder aos cerca de 800 doentes em lista de espera para cirurgia.
Segundo a presidente do conselho de administração, como consequência da recuperação da atividade assistencial nos cuidados de saúde primários, que tinha sido prejudicada pela pandemia da Covid-19, a entrada de doentes nas listas do centro hospitalar “tem aumentado substancialmente”.
Na prática, a procura por consultas de especialidade aumentou 27% nos primeiros quatro meses deste ano face ao mesmo período de 2019, tanto ao nível interno (pedidos de primeira consulta solicitados por outras especialidades e pelo serviço de urgência interna), como externo (reencaminhados pelos centros de saúde), tendo passado de 19.813 referências em 2019 para 25.143 em 2023.
Já em relação à atividade cirúrgica, os dados do CHULC indicam que, nos primeiros quatro meses de 2023, foram feitas 14.555 intervenções, mais 1.324 do que em igual período de 2019.
Apesar deste aumento de produção do centro hospitalar, no mesmo período, a lista de espera para cirurgia aumentou 3,8% face ao período homólogo de 2019.
De acordo com o CHULC, encontram-se atualmente 15.470 doentes inscritos para cirurgia, com uma mediana de tempo de espera de 5,3 meses.
“Temos aumentado a nossa produção, mas o número de doentes que chega a este centro hospitalar é cada vez maior”, adiantou Rosa Valente de Matos, ao salientar que, ao mesmo tempo em que não há lista de espera em algumas especialidades, noutras mantém-se elevada.
“Há especialidades como, por exemplo, oftalmologia em que trabalhamos aos sábados e domingos e, mesmo assim, se olhar para a nossa lista de espera, ela continua elevada, mais elevada do que gostaríamos, mas também não temos capacidade de fazer mais”, reconheceu a gestora hospitalar.
Segundo disse, os resultados do segundo trimestre da produção “são animadores” e demonstram que o CHULC não está na “cauda relativamente a listas de espera para consultas e cirurgias”.
Para Rosa Valente de Matos, os nove CRI criados no centro hospitalar representam um “investimento em novos modelos de gestão”, salientando que esses centros “partem da vontade dos profissionais, o que é muito importante”.
“Eles querem um modelo diferente, querem mais autonomia, mais responsabilidade e acompanhar todo este processo, querem montá-lo”, sublinhou a presidente do CHULC, onde funcionam os CRI de gastroenterologia, urologia, oftalmologia pediátrica, traumatologia, diagnóstico pré-natal, tratamento cirúrgico da obesidade, dermatologia, esclerose múltipla e, agora, de patologias da coluna.
Segundo adiantou, esse modelo de gestão permite ainda criar mais valor para o Serviço Nacional de Saúde, que, neste momento, “está a viver dias complicados”.
Os CRI são estruturas de gestão intermédia, dependentes dos conselhos de administração dos hospitais públicos, que têm autonomia funcional e que estabelecem um compromisso de desempenho assistencial, económico e financeiro, negociado para um período de três anos.
Os profissionais de saúde das várias áreas que integram estes centros de responsabilidade têm acesso a vários incentivos, incluindo financeiros, que estão diretamente relacionados com o desempenho alcançado.
De acordo com a presidente do centro hospitalar, os CRI, ao serem mais atrativos para os profissionais que os integram, têm ainda permitido reter e mesmo atrair médicos para o centro hospitalar
“No CRI da área do trauma nós tivemos profissionais que vieram da área do privado para o centro hospitalar”, assegurou Rosa Valente de Matos, que disse esperar que “saia rapidamente” um modelo remuneratório diferente para os CRI.
“Enquanto ele é, de certa maneira, amigável nas áreas cirúrgicas, nas áreas médicas já não é tão apetecível para os profissionais”, referiu Rosa Valente de Matos, ao defender a necessidade de o Ministério da Saúde avançar “com alguma rapidez” com modelos remuneratórios diferentes e baseados não apenas na produção adicional.
“Um gestor público de um hospital, neste momento, não tem grandes ferramentas, a não ser criar modelos inovadores, cativantes e envolvendo os profissionais, porque são a maior riqueza” do Serviço Nacional de Saúde, salientou a presidente da administração do centro hospitalar que junta os hospitais de São José, Santo António dos Capuchos, Santa Marta, Dona Estefânia, Curry Cabral e a Maternidade Alfredo da Costa.
LUSA/HN
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