Cassilda Pinto é de Penafiel, no distrito do Porto, e está a exercer na Unidade de Saúde Familiar (USF) Raia Maior, em Campo Maior (distrito de Portalegre), desde janeiro de 2020. Em declarações à agência Lusa, afirma que o interior do país foi sempre a sua “primeira opção” para o início da carreira.
A jovem médica confessa que não decidiu se, após terminar a especialidade, vai permanecer ou não na zona, apesar da qualidade de vida oferecida, já que a família está distante.
“Além da parte monetária, que pesa, também somos pessoas, temos família. A minha família é toda do Norte e para mim é muito difícil haver uma mudança completa da minha família para cá, em termos de custos e muito mais”, diz.
Cassilda Pinto aplaude as medidas que as autarquias do interior estão a implementar para fixar médicos, como a atribuição de habitações e incentivos financeiros, mas admite que as questões relacionadas com a falta de acessibilidades “também contam”, incluindo a carência de transportes públicos no Alentejo.
Além disso, aponta a falta de equipamentos nas unidades de saúde para dar resposta aos utentes.
“O interior está esquecido, há muitas dificuldades que aqui se vivem e eu acho que todos os médicos complementariam a sua formação se passassem uma temporada no interior. Valorizariam, pois faz-se medicina no interior com muito pouco”, sublinha.
Sara Gomes é natural do Porto e está a exercer funções de médica interna de Medicina Geral e Familiar em Elvas (também no distrito de Portalegre), vivendo a poucos quilómetros do local de trabalho, já em Badajoz, em Espanha.
Sublinha que aquela região da raia é “muito mais apelativa” em termos de qualidade de vida do que o Porto, enaltecendo a tranquilidade e a forma como é tratada pelos utentes, que reconhecem o trabalho dos médicos.
“É uma tranquilidade, os utentes tratam-nos bem, dão-nos valor, muito valor, que é algo que não se vê hoje em dia. O respeito vai-se perdendo”, diz.
Sara Gomes considera que o interior, e em especial aquela zona do Alentejo, tem escassez de médicos por “falta de conhecimento” por parte desses profissionais de saúde sobre o que a região tem para oferecer.
“Falta de conhecimento, de noção da qualidade de vida que podem ter aqui, das oportunidades de emprego – em termos de internato e de todas as especialidades que podem fazer, de técnicas”, acrescenta.
No entanto, também alerta para a falta de alguns equipamentos nos hospitais e de transportes na região.
“Nós fazemos extensões de saúde ali da periferia (Elvas) e vimos essas dificuldades, do quanto custa dizer ao utente que tem de ir fazer o exame ao hospital de Elvas e está a 20 quilómetros. São pessoas de idade, com muitas carências e não têm transportes nenhuns”, lamenta.
Sara Gomes quer ficar a exercer no distrito de Portalegre e o seu noivo, Diogo Gomes, igualmente do Porto, parece também decidido a ficar.
Diogo Gomes, que está a fazer o internato de formação geral no hospital de Elvas há quatro meses, refere que o Alentejo tem sido “uma surpresa positiva”, não só pela qualidade de vida, mas também pelo ambiente de trabalho que tem encontrado.
No entanto, considera que, para fixar médicos na região, é preciso melhorar as acessibilidades e estratégias em termos hospitalares.
No seu entender, os colegas optam por ficar no litoral por causa do “fator família” e da “falta de conhecimento” da qualidade de vida e de trabalho que o interior oferece.
LUSA/HN
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