Diversidade na oferta de drogas cria novos desafios para políticas e saúde na Europa

16 de Junho 2023

O diretor-geral do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), João Goulão, alertou esta sexta-feira que nunca se assistiu como agora a tanta disponibilidade de drogas e que Portugal segue as tendências internacionais de consumos.

Em declarações à agência Lusa sobre os dados divulgados hoje pelo Observatório Europeu das Drogas e da Toxicodependência (EMCDDA, na sigla em Inglês) no Relatório Europeu sobre Drogas 2023: Tendências e Evoluções, João Goulão disse concordar genericamente com o que é referido pelo Observatório Europeu.

“De facto, nunca se assistiu a tanta disponibilidade de drogas, tanta gente a usar substâncias psicoativas”, apontou o director-geral do SICAD, salientando que a disponibilidade avalia-se pelo facto de “estarem presentes em todo o lado” e de “haver misturas das mais variadas, utilizando substâncias legais e ilegais e medicamentos”.

Na opinião de João Goulão, esta tendência poderá ter a ver “com os tempos difíceis” que a Europa está a viver, com uma guerra em curso depois de uma pandemia, a par da crise económica, com consequentes impactos na saúde mental.

Salientou que as tendências que estão expressas no relatório variam consoante o contexto geográfico, mas garantiu que, de uma forma geral, “têm correspondência com a realidade portuguesa”.

“A canábis como substância psicoativa mais usada, os produtos de canábis com enorme variedade, com a adição ou não de canabinoides sintéticos, depois o recurso a estimulantes, em que aparece a cocaína como a segunda droga mais consumida”, frisou, acrescentando que, no caso de Portugal, tem havido uma estabilização no uso de opiáceos como a heroína.

De acordo com João Goulão, não há sinais de que esteja a haver “um recrudescimento do seu uso”, mas deixou o alerta de que ainda existe “uma população utilizadora de heroína muito numerosa”.

A estas tendências juntam-se uma “infinidade de novas substâncias que vão sendo usadas isoladamente ou em mistura”, desde novas substâncias psicoativas, substâncias como o Ecstasy, “muito presente nos contextos recreativos”, ou drogas dissociativas, como a Quetamina, com “algum impacto” na realidade nacional.

Relativamente aos desafios que estas novas tendências representam, João Goulão lembrou que Portugal tem um dispositivo montado para enfrentar sobretudo uma situação “mais ou menos catastrófica” de uso de heroína, mas admitiu que a realidade hoje é diferente e vai para lá do uso dos opiáceos.

Na opinião do diretor-geral do SICAD, são precisas formas eficazes de enfrentar as novas tendências, nomeadamente o uso simultâneo de várias drogas, minimizando os riscos e os danos causados por esse uso.

“Por outro lado, sermos mais eficazes na prevenção dos consumos e oferecermos formas eficazes de tratamento para estas situações, [nomeadamente] com oferta de cuidados ao nível da saúde mental”, defendeu, sublinhando que “os desafios não são propriamente novos” mas exigem eficácia.

Segundo João Goulão, Portugal tem conseguido adaptar recursos à medida dos diferentes desafios e destacou o facto de, em termos legislativos, o país ter descriminalizado o uso de drogas, o que colocou Portugal “na vanguarda da abordagem destes temas” e teve “um impacto muito positivo na eficácia do dispositivo montado”.

Apontou que a extinção do Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT) e a criação do atual SICAD “conduziu a alguma perda de eficácia”, mas admitiu ter “grandes expectativas” relativamente ao novo organismo único, que o Ministério da Saúde já anunciou que deverá estar concluído até ao início de 2024.

Para João Goulão, esta mudança faz sentido desde que acompanhada do recrutamento de mais recursos humanos, uma vez que a falta de profissionais é atualmente “a grande limitação”.

LUSA/HN

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