1111 dias para travar a doença crónica em Portugal

29 de Junho 2023

Três finalistas da licenciatura em Ciências da Nutrição da Universidade Nova de Lisboa definiram um plano de intervenção comunitária que envolve os cuidados de saúde primários, mães e filhos, durante 1111 dias.

Esta semana, na cerimónia de graduação, na faculdade que os formou desde 2019 – a Nova Medical School –, cinco grupos de finalistas defenderam as suas ideias perante um júri constituído pela diretora, Helena Canhão, e o painel da mesa-redonda “NOVA era da saúde: desafios e oportunidades”, moderada pelo apresentador de televisão Luís Sousa: Laurinda Alves, autora e professora na NOVA SBE, Luís Pisco, médico de família e presidente do conselho diretivo da ARSLVT, e Pedro Pita Barros, professor da Universidade Nova de Lisboa.

“Para colmatar as falhas que existem na prestação de cuidados de saúde pré e pós-natal”, surge a proposta vencedora: “um programa 1111 dias, um programa de nutrição comunitária, idealizado para ser aplicado nos cuidados de saúde primários, mas que é facilmente adaptável a outras realidades e a outros cenários. Pretendemos acompanhar mulheres em idade fértil, desde o planeamento da gravidez até aos dois primeiros anos de vida da criança”, explicaram Inês Timóteo , Ana Sofia Gaspar e Matilde Silva. Principais pilares do programa? O aumento da literacia em saúde, a promoção da educação nutricional e alimentar e o fornecimento de estratégias para a mudança de comportamento.

A evidência científica diz que “esta é uma janela de oportunidade única, em que não só temos as futuras mães muito predispostas e motivadas para a mudança, como temos também um potencial benéfico que podemos garantir para as próximas gerações”. As alunas defendem mesmo que a chegada de um filho é “o motivo mais forte” para querer ser mais saudável.

Inês, Ana Sofia e Matilde frisaram que, em Portugal, quatro em cada dez com mais de 15 anos desenvolvem doenças crónicas não transmissíveis, 8,8% das grávidas desenvolvem diabetes gestacional e uma em cada três crianças tem excesso de peso. Em Lisboa e Vale do Tejo, mais de 60% da população e 53,8% das mulheres têm excesso de peso. Com um rácio nutricionista-utente “manifestamente insuficiente no SNS”, lamentam as alunas, “torna-se impossível uma intervenção individualizada” no combate à obesidade.

“E se a primeira falha é a incapacidade de resposta do SNS face à crescente prevalência de obesidade e de todas as comorbilidades associadas, a segunda é a falta de investimento na prevenção – que representa apenas 1% do PIB.”

Para o grupo vencedor, “a responsabilidade desta mudança de paradigma não é apenas do Estado”. “Cada instituição, seja ela pública ou privada, tem o dever moral” e “a oportunidade de conseguir garantir programas completos de saúde com atuação multidisciplinar”. “Porquê andar a correr atrás do prejuízo se podemos agir a montante?”

Na cerimónia, a diretora da Nova Medical School e a coordenadora da licenciatura de Ciências da Nutrição, Conceição Calhau, deram igualmente ênfase, nos seus discursos, à promoção da saúde e prevenção da doença. Os ex-alunos, “defensores de estilos de vida mais saudáveis”, serão seus guardiões, disse Helena Canhão.

HN/RA

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