A agência de notícias Associated Press (AP) revela que na Suécia muitos professores decidiram este ano letivo dedicar menos tempo aos ‘tablets’, à pesquisa ‘online’ independente e às competências digitais, voltando-se novamente para os livros impressos e dedicando mais tempo à leitura silenciosa ou à prática da caligrafia.
A medida surge depois de políticos e especialistas terem questionado se a abordagem hiper-digitalizada da educação no país, que inclui a introdução de ‘tablets’ nos jardins-de-infância, não terá levado a um declínio das competências básicas.
Um dos sinais de alerta partiu dos resultados do último estudo internacional sobre Literacia em Leitura (PIRLS) que revelou que as crianças suecas estavam com mais dificuldades nesta área.
A ministra da Educação sueca, Lotta Edholm, que assumiu o cargo há 11 meses no âmbito de um novo Governo de coligação de centro-direita, foi uma das maiores críticas à adoção generalizada da tecnologia.
Para a ministra, “os livros físicos são importantes para a aprendizagem dos alunos” e “os estudantes suecos precisam de mais manuais escolares”.
No arranque do ano letivo, Lotta Edholm revelou a intenção de reverter a decisão da Agência Nacional de Educação de tornar obrigatórios os dispositivos digitais nos jardins-de-infância, acrescentando que pretendia acabar com a aprendizagem digital para as crianças com menos de 6 anos.
Em Portugal, o Ministério da Educação está a levar a cabo um projeto que prevê a substituição gradual dos manuais em papel para livros digitais, estando previsto que este ano letivo a medida chegue a mais de 20 mil alunos do 3.º ao 12.º ano.
O ministro da Educação, João Costa, é um defensor do livro em papel e tem defendido que este novo projeto se destina apenas aos mais velhos, até porque para muitos alunos só na escola têm contacto com livros em papel.
Na Suécia, o projeto está desenhado para todas as idades, desde o jardim-de-infância, e o último PIRLS revelou dificuldades crescentes das capacidades de leitura das crianças, apesar de os alunos suecos terem resultados acima da média europeia.
Em 2021, os alunos suecos do 4.º ano obtiveram uma média de 544 pontos, uma descida em relação à média de 555 pontos registada em 2016. No entanto, o seu desempenho continua a colocar o país num empate com Taiwan para a sétima melhor pontuação global nos testes.
Os especialistas admitem que alguns défices de aprendizagem possam ser resultado da pandemia de covid-19 e que a descida das classificações em estudos internacionais sobre leitura possa ter sido afetada pelo número crescente de estudantes imigrantes que não falam sueco como primeira língua.
No entanto, o uso excessivo de ecrãs durante as aulas pode fazer com que os jovens fiquem para trás nas disciplinas principais, dizem os especialistas em educação citados pela agência norte-americana AP.
“Há provas científicas claras de que as ferramentas digitais prejudicam, em vez de melhorarem, a aprendizagem dos alunos”, afirmou o Instituto Karolinska da Suécia, numa declaração divulgada em agosto sobre a estratégia nacional de digitalização da educação do país.
“Acreditamos que o foco deve voltar a ser a aquisição de conhecimentos através de manuais impressos e da experiência dos professores, em vez de adquirir conhecimentos principalmente a partir de fontes digitais disponíveis gratuitamente que não foram verificadas quanto à sua exatidão”, defendeu o instituto, uma escola de medicina centrada na investigação.
Também a Agência das Nações Unidas para a Educação e Cultura (UNESCO) emitiu um “apelo urgente ao uso apropriado da tecnologia na educação”, instando os países a acelerarem as ligações à Internet nas escolas, mas implementando estas tecnologias sem nunca substituir o ensino presencial ministrado por professores.
LUSA/HN
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