A tendência global para alavancar a participação ativa do utente no planeamento e execução do plano diagnóstico e terapêutico é um eixo fundamental para a humanização da prestação de cuidados de saúde, no respeito pelos valores e preferências das pessoas, defende o São João.
“A segurança é uma das várias dimensões de qualidade em saúde, concretamente ligada à minimização dos riscos associados à prestação de cuidados. A segurança do doente é entendida também numa lógica de Medicina Personalizada, que propõe a adaptação dos cuidados de saúde, isto é, as decisões clínicas, as práticas e tratamentos, a cada pessoa de forma individualizada, colocando-a no centro dos cuidados”, defende Ana Azevedo, diretora do Centro de Epidemiologia Hospitalar do CHUSJ, citada em comunicado. Neste contexto, as medidas dirigidas à prevenção de complicações e eventos adversos são cada vez mais orientadas por ferramentas de classificação do risco, algoritmos que desde que devidamente validados permitem ajustar as medidas às necessidades de cada doente.
No CHUSJ, vão-se multiplicando práticas que promovem o envolvimento do doente e familiares na abordagem terapêutica, nomeadamente no caso das patologias crónicas graves, as quais necessitam de um apoio e orientação contínuos. “Quando os doentes são crianças e adolescentes com doenças crónicas, maior é a responsabilidade e esse apoio torna-se ainda mais importante”, afirma Carla Vasconcelos, nutricionista. “O trabalho junto de jovens com doenças raras, como acontece com os doentes com doenças hereditárias do metabolismo proteico, é ainda mais aliciante e absorvente. Eles devem praticar uma alimentação restritiva, onde são excluídos grande parte dos alimentos disponíveis nos nossos mercados, pelo que tentamos, sempre que possível, perceber quais são as principais dificuldades diárias relacionadas com o tratamento, no sentido de dirigirmos a nossa intervenção e contribuirmos para um menor sofrimento e uma melhor orientação terapêutica, com repercussões na qualidade de vida destes utentes e suas famílias.”
Neste contexto em particular, são organizados regularmente encontros de partilha de experiências, dirigidos à preparação e confeção de alimentos, procurando combater o sentimento de incapacidade dos utentes no cumprimento das orientações clínicas e motivando-os. “Num mundo em que a oferta alimentar é cada vez maior e em que a restrição domina o dia a dia destas crianças e adolescentes, é extremamente recompensador perceber que, nestes encontros, os sentimentos de incapacidade e de infelicidade se diluem. Com estes encontros conseguimos contribuir para uma maior adesão e segurança no tratamento das suas patologias de base.”
Outro exemplo é o das entrevistas familiares, muito utilizadas pelos profissionais no CHUSJ em múltiplas áreas, tendo como principal objetivo identificar fatores importantes para os cuidados ao doente no hospital, bem como recolher informação complementar, mas igualmente importante para a continuidade de cuidados em casa e preparar para a nova fase da vida de readaptação do doente/família. Nestas “entrevistas”, o familiar deixa de ser apenas recetor de informação clínica, mas passa a assumir-se uma parte ativa na perceção do estado clínico, ajudando a equipa a compreender as mudanças ocorridas. Este trabalho permite a criação de um plano de intervenção global ao utente/família, desde o ensino e instrução ao treino de atividades diárias na vida do utente e dos cuidadores, mas também aproximar o utente/família e o profissional de saúde, dando mais confiança na relação terapêutica.
A nível institucional transversal, o CHUSJ garante ter a preocupação de ouvir os seus utentes e acompanhantes, utilizando para isso metodologias diversas e complementares, nomeadamente, de forma mais sistematizada, os questionários de satisfação e a receção e tratamento de reclamações. Estes instrumentos são essenciais para o sistema de gestão da qualidade da organização e a sua aplicação envolve todos os serviços clínicos e áreas transversais dedicadas, como por exemplo o Serviço de Humanização e as áreas da Qualidade do Centro de Epidemiologia Hospitalar.
O CHUSJ é reconhecido como Centro de Referência Nacional em 15 áreas, todos certificados pela Direcção-Geral da Saúde pelo modelo de acreditação ACSA, e é membro de 7 Redes Europeias de Referência, além de ter mais de 20 serviços certificados pela Norma ISO 9001:2015, processos nos quais a avaliação externa tem comprovado as boas práticas nesta matéria da auscultação dos utentes e seus familiares.
Em suma, é possível identificar no São João uma crescente mudança do paradigma de “cuidados projetados para o utente” para “cuidados concebidos com o utente”, onde o envolvimento da pessoa e da sua família é a estratégia para aumentar a segurança nos cuidados prestados.
O Dia Mundial para a Segurança do Doente é assinalado pela OMS a 17 de setembro.
PR/HN
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