O presidente da instituição, Nelson Silva, explicou que a Associação de Socorros Mútuos da Covilhã já atuava em alguns destes territórios, através da Unidade Móvel de Saúde, e que por isso conhece as características e necessidades das pessoas, mas destacou o impacto do grande incêndio na “estabilidade emocional” das populações e da importância de “complementar, com um reforço na componente psicológica e física”, a resposta descentralizada que era dada.
“Numa situação de calamidade, a grande preocupação das pessoas tem que ver com as infraestruturas, é normal que assim seja, mas depois há o impacto que tem sobre as pessoas, neste território maioritariamente habitado por gente com uma idade avançada, isolada, e habitualmente esta parte psicossocial fica de lado”, salientou Nelson Silva, em declarações à agência Lusa.
O MentAldeias, hoje apresentado, está no terreno há três meses, com uma equipa multidisciplinar que presta apoio psicológico, atividade física, animação sociocultural, faz rastreios cognitivos e promove iniciativas culturais e encontros gastronómicos.
A psicóloga responsável pelo projeto financiado pela Fundação La Caixa e pelo Banco BPI, Isabel Malaca, frisou que muitas das pessoas afetadas pelos incêndios já sentiam solidão, tomam antidepressivos e ansiolíticos e acontecimentos na vida como o episódio do incêndio “pode exacerbar estas sintomatologias”.
Nesta primeira fase a equipa está mais centrada na intervenção comunitária, para “empoderar as pessoas ao nível das relações de vizinhança e de sentimentos de pertença à comunidade” e adaptar a resposta multidisciplinar às especificidades de cada uma das localidades e ao tipo de apoio a que cada população está mais recetiva.
A intenção é primeiro potenciar o conhecimento e estabelecer uma relação de confiança mútua, que “depois poderá afunilar para acompanhamentos psicológicos individualizados”, estando já algumas situações sinalizadas, explicou Isabel Malaca.
A psicóloga nota nas pessoas “a emoção daqueles dias e a tristeza de verem as áreas destruídas” e acentuou que o que se pretende é que “percebam que, além de perdas que possam ter tido na vida, a vida continua a valer a pena ser vivida e proporcionar momentos prazerosos que não apagam mágoas nem dores, mas que sirvam para empoderar as pessoas a seguir em frente”.
Apesar “do estigma” que ainda existe associado à saúde mental, Isabel Malaca sublinhou que a adesão tem sido positiva, que esses aspetos também se trabalham através das restantes atividades e que a equipa quer que “as pessoas se sintam valorizadas” e que os profissionais e voluntários estão no terreno “para as valorizar”.
O MentAldeias, dinamizado em colaboração com as juntas de freguesia, destina-se a todas as idades, embora a maioria dos utentes sejam maiores de 65 anos.
Atualmente o projeto abrange 80 pessoas, mas o objetivo é chegar às 150 durante os 12 meses de duração da intervenção no Sarzedo, Verdelhos, Orjais, Aldeia do Souto, Vale Formoso e Atalaia.
LUSA/HN
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