Rui Cernadas Médico de Família

O eleitor tem sempre razão

02/28/2024

Estamos a caminho de eleições legislativas!
Imprevistas porque havia uma maioria parlamentar absoluta, de um só partido e que cometeu a proeza de se não aguentar ao longo de menos de dois anos. Por razões que se ligaram a sucessivos escândalos e erros de escolhas da responsabilidade política e pessoal do Primeiro-Ministro. E que deixam no ar a ideia, bem clara, de que um partido único assume facilmente tiques de autoritarismo que provocam alguma saudade da “Geringonça”.
Não vale a pena escolher esse caminho.
É preciso, agora, ter cuidado com quem se manifesta muito sincero e apelativo a mais soluções do mesmo. Quem é verdadeiramente sincero, não é hábil…
Sabemos e tivemos no governo cessante um grande exemplo do que é a política.
A política tornou-se uma arte.
A arte de induzir os cidadãos – nesta fase ditos eleitores – a tomar gato por lebre é o que afasta a cada ano mais gente do uso do direito de voto. Por desilusão e por observação directa.
Percebem-se os partidos a tentar, por todos os meios – incluindo a mentira, o equívoco, o irrealismo e a tontice – atingirem os seus fragmentos e mercados de votantes.
Os Portugueses não são diferentes de outros povos europeus.
Mas certamente são mais sociologicamente crentes no Pai Natal e desejosos de quererem mais do que podem, ambiciosos para terem mais do que têm, esquecidos do País que já foram na História e no Mundo!
Além disso, os clientelismos – de toda a natureza e cores – não surgiram nos últimos meses e estão arregimentados por interesses orientados ou provisórias concertações estratégicas.
Ainda que o mais dramático diria eu, seja que o fim destes clientelismos não se possa prever para breve!
Assistimos à histeria de alguns candidatos a Primeiro-Ministro que, a todo o custo, pretendem ter razão.
Uns mais do que outros.
Evoco um que sabe ser difícil alinhavar dois ou três argumentos lógicos e consolidados em contas rigorosas, gritando a cada frase uma promessa, a todos tentando consolar e agradar, ainda que pareça condenado pelos concorrentes a um solitário caminho e destino.
Outro porém revela-se à vista desarmada, como um caso de dissociação psicológica perigosa e ruidosa, que fala e discursa anunciando como de futuro medidas que, se por um lado se tornam incompreensíveis depois de ter estado seis anos no poder sem as executar e conhecido por ter fraca memória, por outro lado deveriam merecer do País o repúdio por fazer tabua rasa do estado a que chegaram os serviços públicos do Estado. Tenta este acenar com o “desgastado diabo” e com o “passado”, ignorando – não por crença mas por estupidez – o que foi e ainda é a Troika em Portugal e o que foi o esforço patriótico que os cidadãos e o governo de Passos Coelho fizeram, antes mesmo de ainda assim ter voltado a ganhar as eleições em 2015, derrotando em campo António Costa!
Mas ninguém ouve falar em Reformas a sério.
Os eleitores vão ser chamados, se não se “encherem” entretanto, a tomar as suas opções e decisões finais.
Mas o Estado tem deveres constitucionais a cumprir.
E tem serviços inalienáveis, em parte ou no todo.
Educação. E que pensam os professores, os alunos e os encarregados de educação?
Agricultura. Os agricultores em pé de guerra e um governo ausente.
Justiça. E o que esperam os cidadãos e os agentes do sistema judiciário?
Defesa. Num mundo que cheira a ventos de guerra por todo o lado, que prenunciam conflitos de proximidade, Portugal não tem militares nem vocações, faltam recursos humanos e equipamentos para os três ramos das forças armadas. Com a GNR, enquanto força militarizada, faltou o respeito pela retribuição salarial…
Segurança. As primas-donas do governo semearam a confusão e as polícias não obtiveram um tratamento de igualdade por parte de quem advoga igualdade e justiça social…
Saúde. Um SNS em roda livre correndo para um precipício. Profissionais em escassez e um rumo perigoso que pode levar à morte do modelo ULS, mesmo antes de ter crescido. Uma consequência ou um efeito da política seguida em relação às assistências materno-infantil?

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

LIVRE questiona Primeiro-Ministro sobre a privatização do Serviço Nacional de Saúde

Durante o debate quinzenal na Assembleia da República, a deputada do LIVRE, Isabel Mendes Lopes, dirigiu questões ao Primeiro-Ministro, Luís Montenegro, relativamente a declarações proferidas pelo diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), António Gandra d’Almeida, esta manhã, em Atenas, num evento da Organização Mundial de Saúde.

Ana Paula Gato defende fortalecimento dos centros de saúde no SNS

Ana Paula Gato, enfermeira e professora coordenadora na Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Setúbal, apresentou  uma análise detalhada do Relatório do Observatório da Fundação Nacional de Saúde, numa iniciativa realizada no Auditório João Lobo Antunes da Faculdade de Medicina de Lisboa. A sua intervenção focou-se na importância dos centros de saúde como pilar fundamental do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e na necessidade de reforçar os cuidados de proximidade.

MAIS LIDAS

Share This