“Há muito que não sabemos, embora muita da pesquisa sobre sinestesia seja no cérebro humano. Mas há padrões consistentes [de correlação] com criatividade. Os criativos são, muitas vezes, ‘sinestéticos’”, explicou Christine Simmonds-Moore, em entrevista à Lusa.
A investigadora em psicologia falava à Lusa à margem do 14.º Simpósio “Aquém e Além do Cérebro”, da Fundação Bial, que decorre até sábado na Casa do Médico, no Porto, este ano dedicado ao tema da criatividade.
“A sinestesia ocorre quando há uma resposta a um estímulo, quando há uma forma adicional de experienciar o mundo. Por exemplo, experienciar a cor púrpura quando se come picante. Há tipos diferentes de estímulo, e tipos diferentes de resposta, potenciando a expressão criativa pela sua correlação”, acrescentou a investigadora.
Habituada a este tema, parte da lista de interesses académicos que inclui também experiências psíquicas e excecionais, além de outros fenómenos como ‘ASMR’ ou transliminalidade, a docente na Universidade de West Georgia, nos Estados Unidos, detalhou na Casa do Médico a forma como tem testado a correlação entre sinestesias e criatividade.
A diferença entre tipos de sinestesia, seja a associação de uma cor a uma emoção, de uma cor a uma nota musical, de um cheiro a um tipo de linguagem, entre muitas outras, é um dos fatores que dificulta a abordagem mais geral, assim como a diferença entre quem tem sinestesia a vida toda ou apenas episódios sinestéticos, frequentes em estados alterados de consciência ou outras experiências psíquicas.
“Pessoas que são sinestéticas são muitas vezes também criativas, particularmente na música, escrita e artes visuais. Poderemos dizer que tem a ver com a particular combinação das suas sinestesias e a forma única como são criativos, por exemplo ver uma cor numa dada nota musical. Lady Gaga fala da sua música como uma parede de cor. Não o vemos, mas isso permite-lhe algo diferente ao escrever”, exemplifica Simmonds-Moore.
Durante a palestra que apresentou, explorou não só a sinestesia como outros elementos relacionados com experiências psíquicas e a criatividade, elencando a forma como este acesso permite a um criador chegar a mais informação e trabalhá-la.
Além de Lady Gaga, destacou pessoas como Wassily Kandinsky ou Billie Eilish como tendo este tipo de fenómeno cerebral, integrado num esquema maior, e metacognitivo, um dos temas em voga nesta edição do simpósio.
“Temos sistemas diferentes, e mais informação poderá estar a entrar, mas para algumas pessoas poderá ser desorientante. Para outros, é possível controlar essa informação com movimento dinâmico, uma espécie de dentro-e-fora, com estados alterados de consciência”, destacou.
Assim, “pessoas com disposição sinestética terão mais informação no seu sistema cerebral, se otimizarem o processamento da mesma”, podendo aceder a outras conexões neuronais.
De resto, a disposição sinestética pode acompanhar alguém de nascença, havendo “alguma prova de que pode ser aprendida durante a vida”, ou ser espoletada num ou outro episódio, com algumas pessoas a acumularem vários tipos de experiências, além de o stress também poder ser uma das causas para se manifestar.
LUSA/HN
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