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QUE SNS PARA O FUTURO? 

04/06/2024
Cristina Vaz de Almeida e Rui Nogueira / Sociedade Portuguesa de Literacia em saúde

Um fato à medida, com jovens e digital & pessoas idosas com mais relação 

Um SNS do futuro exige adaptação às novas exigências sociais e tecnológicas, adaptar-se aos jovens digitais da geração Z e a um grupo de milhares pessoas mais velhas que exigem um cuidado holístico e as nada mais relacional.

Os jovens da geração Z estão imersos num mundo em que nasceram: o digital. As soluções para estes jovens terão de passar pela obrigatoriedade de mudança da nomenclatura e na forma de contato. São estes que desejam as teleconsultas com confidencialidade acrescida e num horário diferenciado.

Por outro lado uma sociedade cada vez mais velha exige intervenções diferenciadas. Um SNS com um fato à medida do utilizador.

O que será transversal serão as questões da saúde mental, o fortalecimento relacional, da nutrição e da atividade física como forma de promoção de sociedades mais saudáveis.

Um SNS mais promotor e interventivo na promoção da saúde que se relaciona ativamente com as comunidades e municípios.

Com cuidados de saúde bem definidos que preveem:

  • A integração e fortalecimento de redes com as forças comunitárias como as associações de doentes;
  • A telemonitorização dos pacientes em domicílio, com formação dos cuidadores e dos doentes;
  • A ponte com os cuidados continuados e paliativos em espaços aprazíveis no interior do país associados a natureza e ao bem-estar;
  • A ligação do SNS as escolas aumentando soluções de estágios formativos desde os primeiros anos para que os alunos da saúde, social, cultura, economia possam treinar as suas aprendizagens e integrar desde cedo o sistema;
  • A formação dos profissionais de saúde em conjunto com os da área social e cultural para o encontro de ideias sobre o mesmo interesse: a pessoa e a sua vivência saudável física, psicológica e socialmente;
  • A criação de espaços para migrantes regulares e não regulares, como forma de missão humanitária que cabe a cada país. Espaços que integram equipas interdisciplinares para um olhar integrado sobre estas populações que fazem parte necessária da população;
  • A partilha das melhores práticas de algumas estruturas de saúde de proximidade ou hospitalares para que se possam replicar algumas soluções que beneficie todo o sistema;
  • O conhecimento de outras práticas internacionais de sucesso que possam ser a implementadas;
  • Uma remuneração equilibrada entre os vários intervenientes, justa e progressiva;
  • Uma rotatividade entre estruturas das equipas técnicas que manifestam essa vontade para que as partilhas enriqueçam o todo que se quer mais eficiente.

Esperança de um SNS para o futuro: Literacia em saúde, mobilização de recursos, consciência, desenvolvimento, digitalização controlada, mentoria ativa e inovação

Pensar num SNS para o futuro significa então uma atitude consciente e sincera de desenvolvimento e inovação. Trabalhar no setor da saúde exige a mobilização de recursos de grande dimensão. Mas a gestão de recursos é mais complexa do que parece.

O enorme desafio dos próximos tempos é saber dar importância aos recursos humanos da saúde, o principal património do SNS. Este património de valor reconhecido tem vindo a ser delapidado, mas é impossível pensar no futuro do SNS sem aprender o essencial.

No ambiente que vivemos hoje, de grande velocidade de desenvolvimento do conhecimento, no contexto da inteligência artificial, vai ser cada vez mais significativo valorizar a inteligência natural. A inteligência humana vai continuar a ser necessária para desenvolvermos os cuidados de saúde dirigidos à pessoa, com o profundo conhecimento e valorização da família e da comunidade.

A transição digital e a adaptação das pessoas à obrigatória afirmação humanista exigem dignidade e responsabilidade. Os profissionais de saúde, em todas as suas dimensões e obrigações deverão ser líderes na transição e mentores na consolidação da mudança. Todavia, as pessoas terão um papel fundamental e indispensável nas construções de novos modelos do SNS.

 Mas para que as pessoas possam contribuir ativamente, teremos que desenvolver a literacia em saúde em todos os níveis e em toda a comunidade. A capacitação das pessoas será essencial para o SNS do futuro. 

A garantia de um SNS de futuro, sustentável e útil, tem que alicerçar-se nas necessidades realistas das pessoas. 

A rapidez da mudança de paradigma social influencia a capacidade de resposta do SNS e de futuro será cada vez mais necessário privilegiar a capacidade de adaptação.

A realidade que temos hoje nas unidades de saúde do SNS é bem triste. Temos capacidade e competência técnica como nunca e carência de organização como sempre. Temos novos doentes, novas técnicas de diagnóstico, novos planos terapêuticos, novas exigências sociais, novos determinantes ambientais. Mas temos carência de planos assistenciais, ausência de gestão integrada, ineficiência de processos de decisão, fragilidade motivacional dos profissionais, péssimas remunerações e falta de lideranças conscientes e competentes.

O SNS do futuro, o Novo SNS, deve exigir novos mentores, novos atores, novas estratégias, novos reconhecimentos de competências, novas esperanças e, acima de tudo, uma nova capacidade de integrar e orientar as pessoas que carecem de cuidados de saúde. Uma nova atitude de valorização e respeito pelos profissionais que se dedicam e garantem a prestação dos cuidados de saúde com profissionalismo é indispensável e insubstituível

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