David Peres, MD, MPH, CIC (Médico Assistente de Saúde Pública, SCIRA, ULSM) Isabel Neves, MD (Médica Assistente Hospitalar Graduada Sénior de Infeciologia, Diretora do SCIRA, ULSM) Serviço de Controlo de Infeção e Resistência aos Antimicrobianos (SCIRA) da Unidade Local de Saúde de Matosinhos (ULSM)

Gerir o Controlo de Infeção numa ULS: Que Vantagens?

04/08/2024

Em 1999 surge a primeira Unidade de Local de Saúde na cidade de Matosinhos, fruto da integração do Hospital Pedro Hispano e dos Centros de Saúde de Matosinhos, tendo como visão um “modelo de excelência e referência na promoção da saúde, na prevenção da doença e na prestação de cuidados de saúde integrados, centrados na pessoa e na comunidade”. Desde então (e ao longo destes 24 anos) tem servido a sua população de referência, num modelo integrado de gestão de cuidados de saúde.

Neste período de tempo, a nível de controlo de infeção, também ocorreram importantes mudanças, incluindo a definição de infeção: partimos do conceito de “infeção nosocomial” (do grego “nosos” – doença – e “koneion” – hospital) para “IACS” (infeção associada a cuidados de saúde), que admite que a prestação de cuidados de saúde em cenários extra-hospitalares não está isenta de eventos adversos infeciosos.

Considera-se desejável uma boa articulação entre instituições de saúde, no entanto, se em vez de instituições diferentes, for uma só instituição constituída por várias unidades que gerem os cuidados e comunicam a uma só voz, tal traz mais-valias para todas as partes: o doente, que vê os seus cuidados de saúde serem planeados e prestados num continuum; os profissionais de saúde, que partilham a mesma cultura organizacional e comunicam facilmente entre eles e a tutela, que vê a gestão de recursos otimizada e adaptada às necessidades da população.

Se transpusermos esta realidade para a área do controlo da infeção e resistência aos antimicrobianos (CIRA), podemos também elencar várias vantagens no planeamento e implementação de uma estratégia em CIRA, especialmente ao analisarmos cada uma das suas cinco áreas basilares: vigilância epidemiológica; normas e procedimentos; (in)formação; consultadoria e apoio; apoio à prescrição de antimicrobianos. Daremos alguns exemplos, baseados na experiência da ULS de Matosinhos e fruto desta integração:

  • A centralização do Laboratório de Microbiologia permite um sistema de vigilância integrado de microrganismos epidemiologicamente importantes (MEI), independentemente do doente estar internado ou em ambulatório, com acesso a alertas de MEI real-time.
  • A existência de processo único digitalizado, que contém a informação clínica global do utente (hospitalar e cuidados de saúde primários), possibilitando criar timeline contínua de cuidados em bases digitais integradas de gestão em CIRA.
  • A existência de um sistema de informação documentada na ULS permite acesso a todas as normas e procedimentos institucionais à distância de um “clique”, não sendo o Manual de Controlo de Infeção uma exceção.
  • Planear a implementação de uma estratégia de Formação e Informação (transversal e/ou adaptada a diferentes níveis de cuidados) torna-se mais fácil, com a colaboração de um Serviço de Gestão de Conhecimento comum a toda a ULS.
  • A nível de consultadoria e apoio, a existência de um Serviço de CIRA comum, com uma rede de elos de ligação em todos os serviços e unidades da ULS, assim como serviços de apoio transversais (por ex: Hoteleiros, Farmácia, Instalações e Equipamentos, Reprocessamento de Dispositivos Médicos) permite que pareceres técnicos ou de obras sejam mais rápidos, dada a comunicação facilitada interinstitucional.
  • Sob o ponto de vista de stewardship antibiótico, um ambiente de ULS permite implementar estratégias adaptadas ao tipo de cuidados. Assim, usamos uma estratégia front-end, baseadas em normas, em cuidados primários e back-end , tipo “ handskake antimicrobial stweardship” em cuidados hospitalares, promovendo o diagnóstico adequado de infeção e a otimização do uso de antimicrobianos.
  • A contratualização e discussão de indicadores em CIRA faz-se de uma forma integrada e promove a prática da melhoria contínua, com intervenção nos diferentes níveis de cuidados, contribuindo para maior eficácia de resultados.

Perante os exemplos elencados, acreditamos que trabalhar na área de controlo da infeção e resistência aos antimicrobianos em ambiente de ULS traz vantagens, dado ser um serviço transversal, integrado numa cultural organizacional própria, onde a continuidade de cuidados é uma realidade, permitindo contribuir para dois objetivos imprescindíveis: a qualidade e eficiência dos cuidados e a segurança do doente.

NOTA: A ULS de Matosinhos irá organizar o evento híbrido “1º Encontro Controlo de Infeção na ULS” dia 18 abril de 2024. Mais informação Aqui.

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