Comunidades sem acesso a saúde sexual tanto nos países ricos como pobres

17 de Abril 2024

As melhorias globais na saúde e direitos sexuais e reprodutivos nas últimas décadas escondem comunidades que ficam cada vez mais para trás, tanto nos países pobres como nos desenvolvidos, alertou uma responsável das Nações Unidas.

Mónica Ferro é diretora do Escritório do Fundo de População das Nações Unidas em Londres e apresentou hoje o relatório sobre a “Situação da População Mundial em 2024” com indicadores que apontam para melhores condições de vida das mulheres e das crianças.

Em declarações à Lusa, sublinhou os avanços na saúde sexual e reprodutiva nos últimos 30 anos, desde a implementação do programa de ação do Cairo, resultado da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento das Nações Unidas (CIPD), realizada no Egito em 1994.

Nas últimas três décadas, baixou a mortalidade materna e os casamentos infantis, assim como diminuíram os casos de novas infeções por VIH e aumentou o acesso à contraceção.

No entanto, “alguns dos números globais mascaram situações específicas de comunidades que têm sido deixadas para trás”, alertou Mónica Ferro, sublinhando que o progresso não tem sido igual para todos.

A organização acredita que o agravamento das desigualdades acontece “graças a discriminações sistémicas”, como o “racismo, o idadismo, a discriminação contra comunidades étnicas minoritárias e a própria discriminação com base no género”.

Os números nacionais, disse, “não contam a história toda” e este não é um problema exclusivo das regiões mais pobres.

“Há, nos países, grandes bolsas em que o progresso tem estado ausente ou estagnado. Não há nenhum país do mundo que possa dizer que completou toda esta agenda do Cairo”, alertou.

Mónica Ferro defende que é preciso conhecer bem as diferentes comunidades para desenhar políticas eficientes, dando como exemplo o levantamento feito junto das mulheres negras que vivem nos Estados Unidos da América e no Reino Unido.

“Destacamos a mortalidade materna na comunidade negra no Reino Unido e Estados Unidos, não como forma de condenar, mas louvando o facto de estarem a fornecer dados sobre essas comunidades. Com esses dados conseguimos desenhar melhores programas e chegar a essas pessoas”, explicou.

O relatório alerta para a necessidade de os projetos serem segmentados para as comunidades, porque “não há programas que possam tocar todas as pessoas de uma forma empoderadora e inclusiva”.

Neste cenário, Portugal não é exceção: Os estudos mostram que as pessoas que pertencem a comunidades e grupos em situação de vulnerabilidade são as que são deixadas mais para trás.

“Essa é uma narrativa que se aplica, infelizmente, a todos os países, desenvolvidos e em desenvolvimento. Esta não é uma agenda para os países em desenvolvimento, embora saibamos que onde há escassez de recursos e falta de regimes democráticos, esta agenda é cada vez mais premente”.

O relatório salienta ainda que “a felicidade não pode depender do sexo com que se nasce ou do país onde se nasce”.

Também presente no encontro, o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Nuno Sampaio, defendeu a necessidade de uma integração dos migrantes “para que não se criem periferias onde as desigualdades e discriminações persistem”.

O secretário de Estado sublinhou que existem “muitos desafios” que vão para além do trabalho pela igualdade de género e direitos das mulheres: “Há uma dimensão dos direitos demográficos que se prende com o que pode ser feito nos países em vias de desenvolvimento”.

Lembrando que o aumento da população africana e a sua “vitalidade demográfica” é acompanhado pelo “envelhecimento nas sociedades mais abundantes, como é o caso da Europa e de Portugal”, o governante defendeu ser preciso uma “diplomacia para a demografia e uma diplomacia para as migrações”.

Nuno Sampaio salientou também “os direitos das mulheres, a não-discriminação e tudo aquilo que há para fazer em matéria de desenvolvimento social integrado e em particular da igualdade de género, que deve ser transversal a todas as politicas”.

Já a presidente da Associação P&D Fator, Graça Campinos Poças, salientou as melhorias registadas nos últimos anos, sem esquecer os retrocessos em várias matérias como a violência doméstica, incluindo sobre crianças, adolescentes e idosos, e sublinhando a necessidade de apoiar projetos.

Segundo o relatório hoje divulgado, investir mais 79 mil milhões de euros em planeamento familiar e saúde materna poderia salvar um milhão de mulheres entre 2022 e 2050.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Brasil declarado livre de febre aftosa sem vacinação

O Brasil, maior produtor e exportador mundial de carne bovina, foi declarado livre de febre aftosa sem vacinação pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), anunciou hoje a associação patronal brasileira do setor.

Informação HealthNews: Ana Paula Martins será reconduzida no cargo

De acordo com diferentes fontes contactada pelo Healthnews, Ana Paula Martinis será reconduzida no cargo de Ministra da Saúde do XXV Governo constitucional, numa decisão que terá sido acolhida após discussão sobre se era comportável a manutenção da atual ministra no cargo, nos órgão internos da AD. Na corrida ao cargo, para além de Ana Paula Martins estava Ana Povo, atual Secretária de Estado da Saúde, que muitos consideravam ser a melhor opção de continuidade e Eurico Castro Alves, secretário de estado da Saúde do XX Governo Constitucional.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights