Gisela Almeida Enfermeira Especialista e Mestre em Enfermagem de Reabilitação Pós-Graduada em Gestão de Unidades de saúde e em Direitos Humanos

Políticas Públicas de Saúde e Oncologia: Desafios e Oportunidades

05/09/2024

À medida que Portugal avança no século XXI, o papel das políticas públicas de saúde torna-se cada vez mais crucial na definição do futuro do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Como pilar fundamental do bem-estar da população portuguesa, o SNS enfrenta múltiplos desafios, desde o envelhecimento da população, o aparecimento de novas patologias, a crescente procura de cuidados de saúde, até à necessidade de garantir o acesso equitativo e a qualidade dos cuidados prestados aos cidadãos. Nesse contexto, as políticas públicas de saúde desempenham um papel vital na definição de diretrizes, alocação de recursos e implementação de medidas estruturais para enfrentar os desafios emergentes e promover uma gestão eficaz, eficiente e promotora da integração dos cuidados de saúde baseados nas necessidades de cada cidadão.

Na sua especificidade, a oncologia é área clínica que a definição de políticas públicas de saúde tem merecido uma atuação direcionada à sua complexidade e ao impacto significativo que tem na vida das pessoas com doença oncológica e respetivas famílias. Neste sentido, a abordagem do paradigma das políticas públicas de saúde em oncologia deve ter em atenção a garantia do acesso equitativo a cuidados diferenciados de qualidade, centrados nas necessidades específicas de cada pessoa, desde o diagnóstico precoce, tratamento, reabilitação e acesso precoce e efetivo a cuidados paliativos.

Na atualidade, a evidência científica comprova que não devemos subestimar a importância do acesso universal a cuidados de enfermagem de reabilitação. Os enfermeiros de reabilitação desempenham um papel crucial no apoio à pessoa com doença oncológica, contribuindo para uma abordagem de cuidados especializados que permite ajudar a pessoa a  lidar com os efeitos colaterais do tratamento, gestão da dor e a melhoria do seu condicionamento físico. Garantir que todas as pessoas com doença oncológica  tenham acesso a estes cuidados especializados é essencial para promover uma recuperação completa e impactar positivamente a qualidade de vida durante e após o tratamento.

Deste modo, esta abordagem deve ser uma prioridade que requer por parte da tutela um olhar abrangente e coordenado, tendo em vista a definição de estratégias que promovam a integração dos cuidados de saúde em oncologia, garantam o acesso equitativo e precoce a cuidados de saúde direcionados às necessidades da pessoa com doença oncológica, incentivem a inovação e a qualidade nos tratamentos oferecidos.

Sendo verdade que temos vivenciado e trabalhado na prática clínica para a  implementação de estratégias promotoras da integração de cuidados centrados na pessoa, contudo, na minha opinião, subsistem algumas lacunas significativas, especialmente quando se trata de garantir a interdisciplinariedade entre cuidados tendo em vista o tratamento, a reabilitação precoce, o acesso a cuidados paliativos e políticas promotoras da saúde mental. Neste sentido, considero também que a troca de experiências sobre as melhores práticas em Oncologia, entre os países, pode ser muito benéfica para encontrar sinergias que garantam a melhor evidência científica ajustada à prática clínica e promoção da colaboração entre múltiplos parceiros e instituições.

A implementação estratégica das políticas públicas de saúde em Oncologia requer uma abordagem interdisciplinar e colaborativa, envolvendo não apenas profissionais de saúde, mas também associação de doentes, familiares, cuidadores e organizações da sociedade civil. Ao integrar essa abordagem centrada na pessoa e sua família, na gestão dos cuidados de saúde em oncologia, poderemos melhorar significativamente a qualidade de vida da pessoa com doença oncológica e garantir o acesso aos cuidados de saúde que necessitam em todas as fases da gestão da sua doença.

Por fim, interessa cada vez mais refletir que quando falamos de uma abordagem centrada na pessoa com doença oncológica, não se trata apenas de fornecer tratamento médico, mas também de considerar todas as abordagens de cuidados interdisciplinares centrados nas suas necessidades físicas, emocionais, sociais e espirituais.

Ao olharmos para o futuro, é essencial que Portugal e outros países colaborem para que em conjunto encontrem soluções ajustadas aos problemas concretos e desafios que os cidadãos com doença oncológica e as suas famílias enfrentam, tendo em vista a gestão integrada dos cuidados de saúde em oncologia. Isso inclui o intercâmbio de conhecimentos, experiências e recursos para promover políticas públicas de saúde mais eficazes e equitativas. Considerando que na área das novas tecnologias aplicadas à saúde, devemos continuar a investir na inovação e na investigação clínica, aproveitando ao máximo o potencial e contributo da inteligência artificial e outras tecnologias emergentes aplicadas a esta área específica do conhecimento clínico e científico.

Em última análise, enfrentar os desafios complexos na gestão integrada dos cuidados de saúde requer uma abordagem transparente, colaborativa e holística. Assim, ao trabalharmos em conjunto podemos garantir que os cidadãos tenham acesso a cuidados de saúde especializados de qualidade, independentemente do local onde vivem ou de sua condição sócio-económica.

 

 

 

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Klépierre lança ‘Hora Serena’ para inclusão no autismo

A Klépierre implementou a “Hora Serena” nos seus centros comerciais em Portugal, uma iniciativa que ajusta luzes e sons para criar um ambiente inclusivo para pessoas com perturbações do espectro do autismo (PEA) e hipersensibilidade sensorial.

Estudo português revela: VSR mais letal que gripe em adultos

Estudo realizado no Hospital de Matosinhos confirma que o vírus sincicial respiratório (VSR) em adultos, embora menos prevalente que a gripe, resulta em maior mortalidade, complicações e custos hospitalares, sublinhando a urgência de prevenção em quem tem mais de 60 anos.

ANDAR Celebra 30 Anos de Apoio aos Doentes com Artrite Reumatóide

A ANDAR celebra 30 anos de dedicação aos doentes com Artrite Reumatóide no Dia Nacional do Doente, a 5 de abril. A associação promove eventos em Lisboa para reforçar o apoio aos pacientes e divulga avanços terapêuticos nas suas Jornadas Científicas.

Daniel Gaio Simões Assume Liderança da Bayer Portugal

Daniel Gaio Simões é o novo Country Head da Bayer Portugal, sucedendo a Marco Dietrich. Com uma carreira sólida na indústria farmacêutica e regulamentação, assume a liderança num momento de reorganização global da Bayer, integrando o cluster ibérico sob Jordi Sanchez

SNS Abre 200 Vagas para Progressão na Carreira Farmacêutica

O Serviço Nacional de Saúde (SNS) vai abrir 200 vagas para progressão na carreira farmacêutica, incluindo 50 para avaliadores séniores e 150 para avaliadores. A medida integra um acordo entre o Ministério da Saúde e o Sindicato dos Farmacêuticos, com revisão salarial e integração de residentes.

Congresso Update em Medicina Reconhece Excelência Social

Dois projetos inovadores que promovem o acesso à saúde para mulheres migrantes e pessoas sem-abrigo foram distinguidos com o Prémio Fratelli Tutti 2025. As iniciativas já estão a transformar vidas e serão celebradas no Congresso Update em Medicina, de 30 de abril a 2 de maio, em Coimbra.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights