“Há o grande objetivo da Organização Mundial da Saúde (OMS) de, até 2030, reduzir ao máximo as novas infeções e estamos um pouco a marcar passo”, adiantou à agência Lusa o presidente da APEF, que participou num recente encontro sobre as estratégias para alcançar as metas definidas a nível global.
Para as hepatites B e C, a OMS estabeleceu as metas de redução da incidência das infeções em 90% e da mortalidade associada em 65% em 2030.
Segundo Arsénio Santos, Portugal assiste a uma “realidade que é clara para todos neste momento” em que muitos imigrantes “estão a viver em condição não desejáveis, em comunidades sobrelotadas, onde provavelmente estará a haver infeção”.
De acordo com o especialista em Medicina Interna, “alguns dos imigrantes que estão a entrar em Portugal – e não é de agora – vêm de zonas onde a taxa da população com essa infeção é superior à que existe em Portugal”, caso de regiões asiáticas.
De acordo com o presidente da APEF, Portugal tem “muito trabalho feito e um grande progresso” no tratamento da hepatite C, principalmente a partir de 2014, através de medicamentos que permitiram uma taxa de cura de cerca de 97%.
“Neste momento, o número de pessoas que tem de fazer transplante do fígado por causa da hepatite C reduziu-se drasticamente e são casos muito pontuais”, realçou o médico, que salientou a importância de tratar rapidamente as pessoas infetadas, para evitar o risco de desenvolverem doença hepática crónica e até cancro do fígado, mas também para diminuir a possibilidade de passarem a infeção a terceiros.
O especialista em doenças do fígado referiu que “não há dúvida nenhuma” de que, apesar de em termos quantitativos ser mais reduzido do que era há dez anos, o “problema existe e é desejável, de um ponto de vista de saúde pública, ser tratado”.
Para isso, defendeu a necessidade de facilitar o acesso ao tratamento de pessoas que usam drogas injetáveis, através de desburocratização dos processos e dos procedimentos, assim como a generalização dos testes rápidos de rastreio da hepatite C nas farmácias comunitárias.
“É uma prática que faria sentido ser mais difundida em outras zonas do país, porque facilita a vida”, alegou Arsénio Santos.
Segundo o especialista, não está a registar-se um aumento significativo de casos de hepatite C em Portugal, mas sim casos de infeção “cada vez mais difíceis de identificar” pelos profissionais de saúde, uma “luta difícil” agravada pela falta de médicos de família em áreas com muita população, como a Grande Lisboa.
“Os cuidados de saúde primários são essenciais porque são o início da cadeia do sistema de saúde”, considerou Arsénio Santos.
A hepatite C, doença de notificação obrigatória em Portugal, é uma inflamação do fígado provocada por um vírus que se transmite por via sanguínea e que, quando passa a crónica, pode levar à cirrose, insuficiência hepática e cancro.
Não existe vacina contra a hepatite C e a prevenção da infeção passa por evitar o contacto com sangue infetado.
A OMS estima que vivam em todo o mundo cerca de 58 milhões de pessoas com o vírus da hepatite C, que morram anualmente 290 mil por cirrose ou carcinoma hepatocelular, surgindo todos os anos cerca de 1,5 milhão de novas infeções.
Segundo a Direção-Geral da Saúde, entre 2017 e 2020, o número total de casos confirmados de hepatite C em Portugal foi de 857. A doença é mais frequente nos homens, que representaram em média 70% das pessoas infetadas em cada ano.
LUSA/HN
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