A técnica é realizada nos EUA e no Canadá desde 2019 e, segundo o nefrologista Carlos Oliveira, membro da equipa de nefrologia de intervenção do Hospital Garcia de Orta, da Unidade de Saúde Local Almada-Seixal, no distrito de Setúbal, há 1.300 casos de uso desta técnica na Europa, sendo este o primeiro a nível nacional.
“Além da inovação tecnológica, este processo tem a mais-valia de poder ser o 2.º acesso do doente na escala de acessos vasculares. Com esta técnica cria-se uma nova opção e menos invasiva. Estamos a poupar vasos ao doente, o que é muito positivo”, sublinha Carlos Oliveira, citado num comunicado da ULSAS hoje divulgado.
Para o especialista “ser minimamente invasivo é a primeira vantagem deste procedimento”, além de ter também “a vantagem estética de não deixar cicatriz”.
Em causa está um procedimento endovascular realizado sem cirurgia, em que é introduzido um cateter numa artéria e outro numa veia do antebraço do doente e, através de um dispositivo de radiofrequência, que funciona como um bisturi elétrico, é feita uma fístula, juntando uma artéria e uma veia, através dos dois cateteres.
Nos acessos vasculares para hemodiálise, explica a ULSAS em comunicado, a cirurgia mais simples e mais recomendada é a do punho, que é o primeiro acesso do doente mas quando este acesso falha é realizado numa localização superior, mais proximal.
“É mais uma opção e mais uma alternativa ao que já tínhamos. Nem todos vão precisar porque a opção do punho continua a ser a primeira e melhor opção. Aqueles que já fizeram tentativa e não resultou ou que não têm vasos que permitam a construção de um aceso no punho, e que até agora passavam para o braço, agora têm esta opção. Mas, isto implica um mapeamento e um estudo prévios da vasculatura do braço para perceber se são elegíveis anatomicamente”, explica o nefrologista Pedro Bravo, também citado na nota.
No procedimento realizado em Portugal esteve presente a equipa de nefrologia de intervenção da ULSAS, com o nefrologista Pedro Bravo, em conjunto com o radiologista de intervenção espanhol Iñigo Insausti (Universidade Navarra e Pamplona), além de enfermeiros, um técnico de radiologia, e um anestesista, bem como um elemento da cirurgia vascular.
Os cirurgiões vasculares são os primeiros a ver os doentes e a fazer o estudo para o acesso, pelo que “é de todo o interesse que haja uma colaboração próxima entre nefrologia e cirurgia vascular”, sublinha Pedro Bravo.
De Espanha veio ainda um técnico dedicado a este tipo de acessos (com experiência no estudo e seleção dos doentes e do local para fazer a fístula), que deu apoio na seleção do doente.
“Quando um doente tem uma doença renal crónica, as ‘guidelines’ estabelecem um plano de vida do doente que integra o início da terapêutica dialítica (hemodiálise, diálise peritoneal, transplantação renal). No doente que comece por fazer hemodiálise, podemos fazer um plano de vida do acesso vascular. O passo agora é integrar este acesso neste plano de vida. É mais uma etapa que temos no plano de vida do acesso”, explica o nefrologista Carlos Oliveira.
LUSA/HN
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