Placebos abertos (open-label placebos ou OLPs, em inglês) são placebos sem engano, no sentido em que os pacientes sabem que estão a receber um tratamento inerte, como um comprimido que não contém qualquer princípio ativo. Mas será que a toma do comprimido é um componente crítico no efeito placebo?
Com o objetivo de avaliar esta questão, a equipa de investigação liderada por Anne Schienle, com o apoio da Fundação BIAL, utilizou uma nova abordagem na administração de OLP: a ingestão imaginária de um comprimido OLP para regular a repugnância.
Neste estudo, 99 mulheres com idade média de 23,2 anos foram distribuídas aleatoriamente por três grupos: no primeiro, as participantes ingeriram um comprimido placebo (comprimido OLP), no segundo, imaginaram a ingestão de um comprimido placebo (comprimido imaginário), e no terceiro, visualizaram passivamente (VP) imagens repulsivas e neutras.
No artigo “The pill you don’t have to take that is still effective: neural correlates of imaginary placebo intake for regulating disgust”, publicado em março na revista Social Cognitive and Affective Neuroscience, os autores explicaram que as participantes visualizaram 30 imagens repugnantes (por exemplo, vermes, comida podre e secreções corporais) e 30 imagens neutras (versões pixelizadas das imagens repugnantes com um aspeto de mosaico), enquanto a atividade neural do seu cérebro era avaliada através de uma ressonância magnética funcional (fMRI).
Os resultados mostraram que ambas as intervenções placebo reduziram a intensidade da repulsa sentida em comparação com a visualização passiva (VP) das imagens repugnantes, sendo que o comprimido imaginário foi considerado mais eficaz do que o comprimido OLP, tendo registado classificações mais baixas de repugnância e classificações mais elevadas de eficácia esperada e percebida.
Este estudo de fMRI foi o primeiro a comparar os efeitos de diferentes formas de administração do OLP e evidenciou que imaginar a ingestão de um OLP parece surgir como um método superior na regulação dos sentimentos de repulsa em comparação com a ingestão real de um comprimido placebo.
De acordo com Anne Schienle, a abordagem inovadora do estudo abre novas perspetivas sobre o potencial das intervenções placebo na regulação das emoções. “Estas conclusões têm implicações importantes para o desenvolvimento de novas intervenções baseadas no OLP, tanto em contextos clínicos como não clínicos”, revela a investigadora da Universidade de Graz (Áustria).
Bibliografia: “The pill you don’t have to take that is still effective: neural correlates of imaginary placebo intake for regulating disgust”, Anne Schienle, Wolfgang Kogler, Arved Seibel, Albert Wabnegger, Social Cognitive and Affective Neuroscience, Volume 19, Issue 1, 2024, nsae021, published on March 2024, https://doi.org/10.1093/scan/nsae021.
Alphagalileo/HN/PR
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