Ministra reconhece dificuldades de recrutar profissionais para os centros de saúde

12 de Junho 2024

A ministra da Saúde, Ana Paula Martins, afirmou esta quarta-feira que vai haver “muitíssimos centros de saúde” com capacidade de fazer exames, mas reconheceu a dificuldade de conseguir ter os profissionais necessários para assegurar a tarefa.

No âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), disse que haverá “muitíssimos centros de saúde com capacidade resolutiva ao nível de meios complementares de diagnóstico, a questão (…) é ter recursos humanos para lá pôr”.

Ressalvando que não se trata apenas de recrutar técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica, a ministra afirmou na Comissão Parlamentar de Saúde, onde foi ouvida durante quatro horas sobre o Plano de Emergência da Saúde, que “há muitas situações” em que são abertas vagas que ficam por preencher.

“Não conseguimos de facto recrutar. Há uma grande competição e não é só no privado é fora do país”, disse, exemplificando que um anestesista na Bélgica ganha quatro vezes mais do que no setor privado em Portugal.

A ministra admitiu a possibilidade de haver “novos modelos de atração dos profissionais e que sejam mais em modelo de profissão liberal”, para os profissionais ficarem no Serviço Nacional de Saúde.

Relativamente aos problemas nas urgências por falta de profissionais para assegurar as escalas, a governante adiantou que está a ser estudado um decreto-lei que ajude, pelo menos, por mais um ano, até estar tudo “mais reorganizado, a ter um pagamento suplementar de horas de urgência”, além de outros incentivos.

“O nosso objetivo é não termos pessoas a trabalhar 800 horas, porque não é suportável. As pessoas entram em ‘burnout’, abandonam a medicina, abandonam os hospitais, vão fazer outra coisa na vida, isto não é sistema”, declarou.

Segundo a ministra, os médicos “tarefeiros” continuam a existir, referindo que se o Governo não tivesse reproduzido a portaria do ex-secretário de Estado da Saúde, Ricardo Mestre, que prevê um pagamento de mais 40% no valor por hora, o hospital da Guarda não tinha agora a urgência aberta.

Sobre os valores pagos, comentou que “chega a haver quase leilão de qual é o sítio que está a pagar mais valor”, mas ressalvou que “não é um tema de agora”.

Também questionada na audição sobre a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI), a ministra afirmou que “nos últimos anos teve muito poucas evoluções”.

Ana Paula Martins descreveu a situação em que “a rede vive”, sobretudo, as Instituições Particulares de Solidariedade Social, “cujo pagamento de diária é bastante baixo, com o aumento de custos que tem vindo a acontecer, com a inflação” e as dificuldades de captação de profissionais.

“É muito difícil sobreviver e tratar destes doentes”, declarou, realçando a iniciativa do primeiro-ministro, Luís Montenegro, de colocar a RNCCI sob a tutela dos ministérios da Saúde e da Segurança Social para agilizar situações como os internamentos sociais.

A ministra disse que a taxa de execução do PRR na RNCCI era “muito baixo” e exemplificou: “Para 5.498 camas, tínhamos 544 concursos e oito contratos feitos”.

“Posso dar dezenas de exemplos até com a Entidade Reguladora da Saúde, aberturas de instituições importantíssimas que estão pendurada três meses à espera de uma autorização”, disse, frisando que esta situação “não pode continuar”.

O Ministério da Saúde e o ministro-adjunto do primeiro-ministro da Coesão estão agora a assinar contratos “o mais rapidamente possível”, a desburocratizar o processo, porque “eram avaliações em cima de avaliações de projetos de arquitetura e de engenharia que já estavam feitos e que não era burocracia do Ministério da Saúde, com todo o respeito, que iria resolver”.

No seu entender, “não é aceitável” ter entidades com camas fechadas “à espera que vão lá passar um papel”.

“Neste momento, temos lei (…) a Direção Executiva vai continuar a ter esta área de cuidados continuados e paliativos”, mas, observou, neste momento nem há coordenador da rede que se demitiu.

Contactado pela Lusa, o Ministério da Saúde adiantou que a demissão do Coordenador Regional de Cuidados Paliativos ARS Lisboa e Vale do Tejo, Sérgio Amadeu, ocorreu em janeiro.

LUSA/HN

1 Comment

  1. Mario Pires

    A notícia não está correta em relação aos TSDT. Há profissionais TSDT interessados em contrato de trabalho por tempo indeterminado. Para contratos de prestação de serviços (recibos verdes) como os que são propostos para os cuidados de saúde primários é que os concursos ficam desertos em virtude do vínculo precário que é proposto.
    Quanto à aquisição de equipamentos para a realização de MCDTs, é necessário que os TSDT façam parte dos júri dos concursos de aquisição para não haver desperdício de fundos do PRR, evitando a aquisição de equipamentos que não cumprem as especificações e depois ficam para sempre nas caixas de embalagem…

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Investigadores revelam como coelhos domésticos sobrevivem em meio selvagem

Uma equipa internacional, liderada por investigadores do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (BIOPOLIS-CIBIO) da Universidade do Porto, demonstrou que os coelhos domésticos sobrevivem no meio selvagem devido à existência de uma componente genética, foi hoje avançado.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights