De acordo com o segundo inquérito do Observatório Internacional de Microbiotas, que recolheu respostas de 11 países em três continentes, os portugueses ainda possuem um conhecimento limitado sobre o papel crucial que o microbioma e a microbiota desempenham no bom funcionamento do organismo. No entanto, houve uma melhoria em relação ao inquérito realizado no ano passado.
Conceição Calhau, Investigadora e Professora Catedrática na NOVA Medical School, sublinha que há ainda muito a fazer em termos de sensibilização. “A maioria das pessoas não sabe que patologias como a doença de Crohn, síndrome do intestino irritável, obesidade, Parkinson ou autismo estão relacionadas com desequilíbrios na microbiota. O equilíbrio destas comunidades de microrganismos é crucial para o sistema imunitário, protegendo-nos de sequelas pós-infeção, como observado na COVID-19,” explica.
A investigadora detalha que a microbiota é composta por milhões de microrganismos (bactérias, vírus, fungos) que vivem em simbiose no nosso corpo, e destaca a importância da microbiota intestinal, a guardiã do sistema imunitário. Calhau alerta que interferências, especialmente nos primeiros mil dias de vida, podem afetar irreparavelmente a saúde na fase adulta, associando-se a doenças autoimunes.
Este ano, globalmente, quase metade das pessoas indicou que o médico explicou pelo menos uma vez o que é a microbiota (45%). Em Portugal, embora a informação recebida seja menor que no resto do mundo, há uma evolução positiva: 31% dos portugueses foram informados sobre a microbiota pelos seus profissionais de saúde (+5 pontos vs. 2023); 38% receberam explicações sobre comportamentos corretos para manter uma microbiota equilibrada (+3 pontos vs. 2023); e 37% foram informados sobre a importância de preservar o equilíbrio da microbiota (vs. 48% no total).
“A educação das pessoas é essencial para lhes ensinar o papel do microbioma e da microbiota na saúde, e os comportamentos para manter esses microrganismos em equilíbrio,” defende Conceição Calhau, acrescentando que os profissionais de saúde têm uma missão crucial na sensibilização e capacitação para a prevenção.
Os dados mostram que 30% dos portugueses foram sensibilizados pelos profissionais de saúde para as consequências negativas dos antibióticos no equilíbrio da microbiota, um aumento de 3 pontos em relação a 2023. A investigadora enfatiza que é essencial que os profissionais de saúde entendam os danos da antibioterapia na microbiota e promovam a recuperação do seu equilíbrio. Recomenda a prescrição de probióticos, como Saccharomyces boulardii, juntamente com antibióticos.
Globalmente, entre os inquiridos que já ouviram falar de microbiota, apenas 23% sabiam exatamente o que significava. Em Portugal, três em cada cinco pessoas já ouviram falar de microbioma, mas só 15% sabem o seu significado. No entanto, 97% dos portugueses estão familiarizados com o termo “flora intestinal” e 91% com “flora vaginal.”
A conscientização sobre microbioma é maior no Vietname, França e Espanha, e menor na Finlândia e Marrocos. Portugal está abaixo da média global de 70%, com 62%. As mulheres estão mais informadas que os homens, e os pais de crianças pequenas, entre 25 e 44 anos, mostram maior consciência sobre microbiomas.
Quanto a comportamentos saudáveis, uma maioria significativa refere praticar uma dieta equilibrada (84%), atividade física (78%), evitar fumar (76%) e limitar alimentos processados (75%). Os vietnamitas (84%), mexicanos (67%) e polacos (65%) são os mais dispostos a adotar comportamentos saudáveis, enquanto franceses (48%), portugueses (47%) e finlandeses (36%) são os menos disponíveis para mudanças que garantam o equilíbrio do microbioma.
O Observatório Internacional de Microbiotas realizou 7500 inquéritos em países como EUA, Brasil, México, Portugal, Espanha, França, Polónia, Finlândia, China, Vietname e Marrocos.
NR/HN/PR
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