Os impactos do ruído na saúde são inúmeros e estão bem identificados. Para lá dos efeitos óbvios do ruído muito elevado na perda da audição, temos muitos outros mais subtis, como as doenças cardiovasculares, as perturbações cognitivas, o aumento do stress e as perturbações do sono, com tudo aquilo que elas implicam.
Sabemos também que não são apenas os ruídos muito elevados os agressores. Ruídos menos intensos mas contínuos e repetitivos têm um efeito corrosivo na saúde física e psíquica dos que a ele estão expostos e mesmo aqueles ruídos que ocorrem durante a noite sem nos acordarem perturbam os ritmos e os ciclos do sono, tornando-o menos eficaz.
Tanto é verdade que estes dados são conhecidos que existem regulamentos gerais de ruído, normas, restrições, coimas previstas, etc., etc.
Qual o problema? Ninguém parece querer saber, ninguém fiscaliza e, mesmo quando tal acontece, as consequências são nulas.
A animação de rua é uma realidade recente e em franca ascensão. Parece que os turistas apreciam, batem palmas e gratificam estes artistas.
Qual é a questão? Inúmeras vezes essa actividade ocorre em zonas residenciais. Para quem passa são uns minutos. Para quem mora são horas sem fim de ruído, das mesmas canções, de impossibilidade de descansar, de abrir a janela, de ler um livro, de ver televisão sem ter de aumentar o som para que se sobreponha ao da rua. E isto todos os dias…
Este cenário tornou-se recorrente no Chiado e no Parque das Nações. Mas seguramente repete-se em muitos outros locais.
No Parque das Nações o Meo Arena assume-se despudoradamente como um poluidor sonoro insensível à zona residencial onde se insere e debita decibéis até de madrugada que fazem estremecer os prédios circundantes.
Quem fiscaliza isto? Quem se preocupa com isto?
É impressionante. Em Wimbledon as finais de ténis são interrompidas às 23.00 por respeito aos habitantes. E são eventos que movimentam milhões de pessoas e são um fenómeno global.
Em Praga temos anúncios no aeroporto a apelar ao silêncio a partir das 22,00.
Em Portugal somos martelados e martirizados por música até de madrugada e, perante denúncias juntos das autarquias e da PSP, a resposta varia entre a falta de meios ou a promessa de uma intervenção que nunca acontece.
O silêncio é de ouro. Por todas as razões. Esta obsessão com o turismo e esta indiferença perante situações que parecem inócuas traduz-se no sofrimento, na falta de descanso de milhares de pessoas que ficam prisioneiras em sua casa e nada podem fazer para desligar dos saxofones, guitarras, músicas cantadas e ampliadas através de colunas que chegam a todo o lado durante horas e horas.
O atraso ou o sucesso de uma democracia é medido pela sensibilidade a questões como estas. Em Portugal, pelo menos em Lisboa, essa sensibilidade é zero.
As pessoas que ouçam, as pessoas que fechem as janelas, coloquem auriculares ou tomem um sedativo.
O que interessa é que… the show must go on…
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