Novo estudo desafia mitos da “psicologia popular” sobre hábitos

14 de Julho 2024

Investigadores da Universidade de Surrey afirmam que abandonar os mitos da "psicologia popular" sobre hábitos pode melhorar a nossa compreensão sobre eles e ajudar-nos a agir de forma mais eficaz.

A psicologia popular tende a retratar todos os comportamentos estáveis como hábitos e a implicar que a formação de novos hábitos levará sempre a mudanças positivas a longo prazo. No entanto, uma nova análise realizada por investigadores de Surrey argumenta que um hábito é simplesmente uma ligação mental entre uma situação (dica) e uma ação (resposta). Quando alguém com um hábito se encontra na situação específica, um impulso inconsciente incita a ação. No entanto, se este impulso leva a um comportamento habitual depende de outros impulsos concorrentes que influenciam as nossas ações.

Benjamin Gardner, coautor do estudo e Leitor de Psicologia na Universidade de Surrey, explicou: “Formar um hábito significa ligar uma situação que se encontra frequentemente com a ação que geralmente se realiza. Estas ligações ajudam, criando impulsos que nos impelem a fazer a ação habitual sem pensar. Mas os impulsos dos hábitos são apenas um de muitos sentimentos que podemos ter a qualquer momento.

“Os impulsos são como “bebés”, cada um deles chorando para chamar a nossa atenção. Só podemos cuidar de um de cada vez. Esses impulsos vêm de várias fontes – intenções, planos, emoções e hábitos. Agimos de acordo com o impulso que exige mais atenção, chorando mais alto num determinado momento.”

“Os impulsos habituais geralmente choram mais alto, guiando-nos a fazer o que normalmente fazemos, mesmo quando outros impulsos competem pela nossa atenção. No entanto, há momentos em que outros impulsos choram mais alto.”

Outros impulsos podem anular os nossos hábitos – como um clima frio que impede o nosso habitual jogging matinal.

O estudo salienta que formar um novo hábito cria uma associação que pode ajudar a manter o comportamento desejado, mas não garante que este se mantenha sempre.

“Imagine alguém que desenvolveu o hábito de tomar um pequeno-almoço saudável todas as manhãs. Um dia, essa pessoa acorda tarde, sai de casa sem tempo para o pequeno-almoço e acaba por comprar um snack açucarado no caminho para o trabalho, exemplifica Phillippa Lally, coautora do estudo e Professora de Psicologia na Universidade de Surrey. Segundo a especialista, “Esta única interrupção pode fazê-la sentir que falhou, potencialmente levando-a a abandonar o hábito de alimentação saudável por completo. Ao tentar fazer com que um novo comportamento se mantenha, é uma boa ideia formar um hábito e ter um plano de contingência para lidar com contratempos, como ter snacks saudáveis à mão que se possam aceder rapidamente em manhãs ocupadas.”

Quanto a quebrar maus hábitos, os investigadores de Surrey sugerem vários métodos.

Gardner explica: “Existem várias maneiras de evitar agir de acordo com os seus hábitos. Imagine que deseja parar de petiscar em frente à TV. Uma maneira é evitar o gatilho – não ligar a TV. Outra é dificultar a ação impulsiva – não ter snacks em casa. Ou, pode conter-se quando sentir o impulso.

“Embora o hábito subjacente possa permanecer, estas estratégias reduzem as hipóteses de os comportamentos ‘maus’ ocorrerem automaticamente.”

Phillippa Lally acrescenta: “Em princípio, se não puder evitar os “gatilhos” dos seus hábitos ou dificultar o comportamento, trocar um mau hábito por um bom é a melhor estratégia seguinte. É muito mais fácil fazer algo do que nada, e desde que seja consistente, o novo comportamento deve tornar-se dominante ao longo do tempo, suprimindo quaisquer impulsos provenientes do seu antigo hábito.”

Este estudo abre caminho para uma nova compreensão dos hábitos, mostrando a importância de estratégias práticas e a realidade de que formar e manter hábitos exige mais do que força de vontade ou crenças populares.

Bibliografia

Gardner, B., Rebar, A. L., de Wit, S., & Lally, P. (2024). What is habit and how can it be used to change real-world behaviour? Narrowing the theory-reality gap. Social and Personality Psychology Compass, e12975. https://doi.org/10.1111/spc3.12975

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