Momento da toma de medicação para a pressão arterial não faz diferença, revela estudo

31 de Agosto 2024

A administração noturna de medicamentos para reduzir a pressão arterial (PA) não reduziu o risco de eventos cardiovasculares ou morte em comparação com a administração matinal, de acordo com uma investigação de última hora apresentada hoje numa sessão Hot Line no Congresso ESC 2024.

“As evidências sugerem que níveis de PA superiores ao normal durante a noite estão associados a um maior risco de eventos cardiovasculares. No entanto, os ensaios que avaliaram o impacto da administração de medicamentos para reduzir a PA à noite mostraram resultados mistos. Nesta meta-análise, reunimos todos os dados dos ensaios e concluímos que o momento da toma não afeta os resultados”, explicou o apresentador do estudo, Professor Ricky Turgeon, da Universidade da Colúmbia Britânica, Vancouver, Canadá.

Foi realizada uma revisão sistemática e meta-análise que incluiu todos os ensaios clínicos aleatorizados de grupos paralelos, comparando a administração noturna e matinal de todos os medicamentos para reduzir a PA. Os estudos tinham de ter pelo menos um resultado cardiovascular de interesse, com um seguimento de ≥500 doentes-ano por grupo e um seguimento médio ≥12 meses. Os ensaios foram avaliados utilizando a ferramenta Cochrane Risk of Bias 2.

O endpoint primário foi o conjunto de eventos cardiovasculares adversos major (MACE, um composto de morte por qualquer causa, enfarte do miocárdio não fatal, acidente vascular cerebral não fatal e exacerbação da insuficiência cardíaca). Os endpoints secundários incluíram componentes individuais do MACE, hospitalização por todas as causas e eventos de segurança específicos (fraturas, eventos relacionados com glaucoma e agravamento cognitivo).

Foram incluídos cinco ECR com 46.606 doentes – BedMed, BedMed-Frail, TIME, Hygia e MAPEC. Os ensaios BedMed, BedMed-Frail e TIME foram considerados como tendo um baixo risco geral de viés, enquanto houve algumas preocupações de viés com Hygia e MAPEC, particularmente em relação ao processo de aleatorização.

Nos cinco ensaios, a incidência de MACE não foi afetada pela toma noturna vs. matinal (hazard ratio [HR] 0,71; intervalo de confiança de 95% [IC] 0,43-1,16). Numa análise de sensibilidade por risco de viés, o HR foi de 0,94 (IC 95% 0,86-1,03) para MACE com toma noturna vs. matinal nos três ensaios considerados de baixo viés e 0,43 (IC 95% 0,26-0,72) nos dois ensaios com preocupações de viés.

Não houve diferença na mortalidade por todas as causas para a toma noturna e matinal (HR 0,77; IC 95% 0,51-1,16). Da mesma forma, todos os outros endpoints secundários não foram afetados pela toma noturna vs. matinal, incluindo fraturas, eventos de glaucoma e eventos cognitivos.

“Os resultados da meta-análise fornecem evidências conclusivas de que não há diferença entre a toma noturna e matinal. Os doentes devem tomar os seus medicamentos para reduzir a PA uma vez por dia, no momento que melhor se adequa às suas preferências e circunstâncias”, concluiu o Professor Turgeon.

Bibliografia:

1‘Meta-analysis of trials of antihypertensive medication bedtime dosing including individual-patient data from BedMed and BedMed-Frail’ will be discussed during Hot Line 2 on Saturday 31 August in room London.

2‘The BedMed and BedMed-Frail randomised controlled trials – Effect of antihypertensive timing on mortality and morbidity’ will be discussed during Hot Line 2 on Saturday 31 August in room London.

NR/HN/alphagalileo

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