“Dado o avanço das tecnologias e a modernização do atendimento do paciente dialítico, em 2021, por orientação da Comissão Executiva, demos início à reestruturação do Serviço de Nefrologia da Clínica Girassol e, para tal, o serviço deslocou-se temporariamente para a cave, onde tem funcionado sem sobressaltos”, contou Hady Miguel, Chefe do Serviço de Nefrologia e Hemodiálise.
Na cerimónia de inauguração, no dia 4 de setembro, Hady Miguel partilhou que “é com muita alegria” que o serviço entra “hoje para esse novo ciclo”. A reestruturação representa “uma melhoria na qualidade da assistência que a Clínica Girassol insistentemente compromete-se a prestar aos seus utentes”.
Com este passo, “conseguiu-se adquirir alguns ganhos”, enumerados pela chefe de serviço: oferecer um atendimento diferenciado e mais humanizado aos pacientes renais; ampliação do espaço, “garantindo melhor acomodação aos pacientes e aos profissionais de saúde”; aumentar o número de postos de diálise, de 17 para 24, e de pacientes por dia, de 51 para 70; e aumentar o número de turnos, para três diários.
E mais: “Houve ainda a criação da sala de diálise peritoneal, que nos permitirá o ensino e tratamento, bem como a sala de procedimentos, devidamente equipada; houve ainda uma melhoria na qualidade do tratamento dialítico e o uso de tecnologias avançadas e modernas, com monitores que nos permitem fazer técnicas dialíticas mais eficazes do que tínhamos anteriormente.” Os monitores realizam a modalidade de hemodiafiltração online.
“Continuamos, sim, com o desafio de dar sequência ao programa de acessos vasculares complexos, com a criação do centro de acessos vasculares, tornando-nos, então, aquilo que é o nosso objetivo: uma referência a nível nacional”, afirmou Hady Miguel.
O serviço da Clínica Girassol já disponibiliza a hemodiálise intermitente e contínua e a diálise peritoneal e, num futuro próximo, pretende avançar para a realização do transplante renal.
Na inauguração, Hady Miguel recordou o início, há 14 anos, sob o comando do Dr. Mário Gomes da Silva. Os números eram menores (o serviço realizava apenas uma das modalidades dialíticas, a hemodiálise, contando com 17 pontos de diálise e capacidade para atender 51 pacientes por dia, distribuídos por dois turnos), mas o foco principal manteve-se: “O serviço sempre teve como principal objetivo o segmento de pacientes com patologias renais, tanto a nível ambulatorial como a nível de internamento, bem como oferecer tratamento dialítico àqueles pacientes que têm doença renal crónica em estadio terminal e que precisam de alguma terapia de substituição da função renal.”
A diálise peritoneal foi iniciada em março de 2012, e a Clínica Girassol tornou-se um centro de referência a nível nacional, servindo também como espaço de treinamento para médicos e enfermeiros. “Em 2014, de forma intermitente, iniciámos o programa de acessos vasculares complexos e de angiografia de intervenção de acessos vasculares”, acrescentou a chefe de serviço.
Na cerimónia desta quarta-feira, foram homenageados o Dr. Mário Gomes da Silva e o Enfermeiro Francisco Rodrigues, responsável do Serviço de Nefrologia e Hemodiálise. Presentes no momento da inauguração, Mário Gomes da Silva ouviu Hady Miguel dizer que o seu “legado fica para os mais jovens, de dar continuidade a este trabalho que ele com muito vínculo desempenhou durante 14 anos”, e Francisco Rodrigues que “veste a camisola da instituição; defende a instituição de forma muito peculiar”.
Francisco Rodrigues, no serviço há 14 anos, reagiu à homenagem, em declarações ao nosso jornal, tornando público o seu agradecimento à Comissão Executiva e à Direção de Enfermagem. Foi um “gesto de carinho” e “motivacional”, “para dar continuidade do que é o nosso comprometimento com os utentes, cumprirmos a missão, a visão e os valores da nossa instituição”, comentou o enfermeiro.
Já o Dr. Mário Gomes da Silva disse ao nosso jornal que se sentia “lisonjeado e agradecido” pelo reconhecimento. “A Comissão Executiva teve esse gesto que me honra muito.”
Na nossa conversa, o Dr. Mário Gomes da Silva recuou ao ano de 2010 para contar a história do serviço desde o princípio: “Eu criei o serviço em 2010, atribuí ao mesmo uma série de valências, nomeadamente de tratamento, ao nível do que existia na altura lá fora, nos países mais desenvolvidos em termos médicos. Implementei um tipo de tratamento que permite uma maior eficácia dialítica, menor morbimortalidade aos doentes, maior sobrevivência dos mesmos. Concomitantemente, iniciei também aqui em Angola um programa regular de diálise peritoneal, em 2012 (…). Também introduzi uma modalidade para resolver os problemas dos acessos vasculares complexos (…)e a angiografia da intervenção nos acessos vasculares, que é uma mais-valia em qualquer parte do mundo.”
“Mas a medicina, tal como as instituições, tem de ser renovada. Portanto, nada é estanque e, depois do covid, decidi que era altura de melhorar as instalações que tínhamos, permitindo maior conforto de infraestruturas aos nossos doentes e, principalmente, aos nossos profissionais (…). Introduzimos algumas alterações que beneficiaram muito o serviço, mantendo o tratamento dialítico de qualidade, criando condições para que haja um treinamento não só de familiares, mas também dos doentes de diálise peritoneal. Introduzimos um local onde podemos efetuar a colocação não só de cateteres centrais de longa duração, mas também de acessos vasculares, e também é importante a realização de biópsias renais porque é o que nos dá o diagnóstico”, prosseguiu o Dr. Mário Gomes da Silva.
Angola “precisa de ter serviços de nefrologia”, sublinhou o Dr. Gomes da Silva. “Ou seja, os centros de hemodiálise são só uma parte do tratamento do doente renal. Mais importante do que chegarmos ao estadio terminal da doença, é preveni-la, é diagnosticá-la precocemente, e isso é a função do serviço. O nosso serviço tem capacidade para não só fazer este tipo de tratamento dialítico, mas também ser um centro de formação para médicos de outras instituições que queiram fazer o seu estágio no nosso serviço.”
No final da conversa, o Dr. Mário Gomes da Silva fez questão de reforçar “a ideia da importância de ser um serviço de nefrologia – que requer quadros”. “Não interessam as infraestruturas se não tivermos a componente humana. E a componente humana é de formação de qualidade, não é formação em quantidade, nem de forma deficiente.”
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