A organização não-governamental (ONG) Médicos Sem Fronteiras (MSF) anunciou hoje o encerramento das suas operações na Rússia, após mais de três décadas de presença no país.
A notícia foi divulgada através de um comunicado oficial emitido pela MSF na noite de segunda-feira, revelando que a organização foi notificada pelo Ministério da Justiça russo em agosto sobre a sua exclusão do registo de instituições estrangeiras autorizadas a operar no país. Esta medida afeta especificamente a filial holandesa da MSF, que era a única ativa em território russo.
Maria Borscheva, porta-voz da MSF, explicou à Agência France Presse: “Para cumprir esta decisão, tivemos de encerrar as nossas atividades no país e rescindir os contratos do nosso pessoal”. Borscheva acrescentou que ainda existe um ramo da organização dedicado a atividades não operacionais na Rússia, embora o futuro desta vertente permaneça incerto.
A decisão das autoridades russas não surge isolada, inserindo-se num padrão mais amplo de restrições a organizações internacionais desde o início da invasão da Ucrânia. Em 2023, outras ONG proeminentes como o Greenpeace, a Transparency International e o World Wide Fund for Nature (WWF) foram declaradas “indesejáveis” e proibidas de operar na Rússia.
Norman Sitali, diretor das operações da MSF na Rússia, expressou profundo pesar pela situação: “É com grande tristeza que temos de pôr termo às nossas atividades na Rússia. Muitas pessoas que necessitam de ajuda médica e humanitária encontram-se agora sem o apoio que lhes poderíamos ter dado”. Sitali sublinhou o impacto significativo da MSF desde 1992, supervisionando dezenas de programas vitais no país.
Os números apresentados pela organização são impressionantes. Desde o início da invasão russa da Ucrânia, a MSF prestou assistência humanitária a mais de 52 mil refugiados e pessoas deslocadas. Adicionalmente, mais de 15.400 indivíduos receberam apoio médico gratuito através dos programas da organização.
O impacto desta decisão estende-se também aos profissionais locais. Borscheva revelou que mais de 50 pessoas estavam empregadas na filial russa da MSF. Em termos financeiros, a organização investiu 3,4 milhões de euros em programas no país só no ano passado, de acordo com informações disponíveis no portal oficial da MSF.
Esta saída forçada da MSF da Rússia levanta preocupações sérias sobre o futuro da assistência humanitária na região. Especialistas em direitos humanos e saúde global expressaram apreensão sobre o vazio que será deixado pela partida de uma organização com tanta experiência e recursos.
Dr. Ana Silva, especialista em saúde global da Universidade de Lisboa, comentou à Lusa: “A saída da MSF representa uma perda significativa para a população russa, especialmente para os grupos mais vulneráveis. A organização desempenhava um papel crucial não só na prestação de cuidados de saúde, mas também na formação de profissionais locais e na resposta a emergências sanitárias”.
O encerramento das operações da MSF na Rússia marca o fim de uma era de cooperação internacional em saúde e assistência humanitária no país. Resta agora observar como esta lacuna será preenchida e quais serão as consequências a longo prazo para a população russa que dependia dos serviços prestados pela organização.
A comunidade internacional continua a acompanhar de perto a situação, com várias organizações e governos a expressarem preocupação sobre o crescente isolamento da Rússia no campo da cooperação humanitária internacional.
NR/HN/Lusa
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