Um estudo recente revelou que, apesar dos avanços significativos na longevidade humana, a saúde das mulheres continua a ser negligenciada em vários aspetos cruciais. Esta disparidade não só afeta a qualidade de vida das mulheres, mas também tem implicações económicas substanciais a nível global.
Em Portugal, a situação é particularmente alarmante no que diz respeito aos cancros ginecológicos. Anualmente, cerca de três mil mulheres portuguesas são diagnosticadas com alguma forma de cancro ginecológico. Estes tipos de cancro, que incluem tumores do endométrio, colo do útero, ovário, vulva e vagina, são frequentemente detetados em estágios avançados devido à sua natureza silenciosa, o que complica o tratamento e reduz as chances de sobrevivência.
Um dado particularmente preocupante revelado pelo estudo é que as mulheres são diagnosticadas mais tardiamente do que os homens em relação a 700 doenças diferentes. Esta disparidade no diagnóstico sublinha a necessidade urgente de maior consciencialização sobre a importância da prevenção, rastreios regulares e atenção aos sinais de alerta.
Cláudia Fraga, Presidente da Associação MOG e sobrevivente de cancro do ovário, enfatiza a importância da autoconsciência: “É fundamental que cada mulher saiba ouvir o seu corpo e não ignore sintomas que ao princípio podem não ser nada de especial. Aumentar a consciencialização de todas as mulheres para os principais fatores de risco e sinais de alarme é neste momento a única arma que temos para antecipar os tumores ginecológicos.”
O estudo também destaca as implicações económicas desta disparidade na saúde. Dados divulgados no Fórum Económico Mundial sugerem que combater a menor atenção dada à saúde das mulheres poderia estimular a economia mundial em 920 mil milhões de euros por ano até 2040. Esta lacuna equivale a 75 milhões de anos de vida perdidos devido a problemas de saúde ou morte prematura por ano, o que corresponde a sete dias por ano na vida de cada mulher.
Apesar dos avanços significativos na longevidade humana ao longo dos últimos séculos, com a esperança média de vida a passar de 30 para 73 anos entre 1800 e 2018, as mulheres ainda enfrentam desafios desproporcionais. Em média, uma mulher passará nove anos com problemas de saúde, o que representa 25% a mais em comparação com os homens.
Entre os cancros ginecológicos, o do endométrio é o mais frequente em Portugal, enquanto o do ovário é considerado o mais letal. O cancro do ovário, em particular, é notório pela sua progressão silenciosa e sintomas inespecíficos, tornando o diagnóstico precoce um desafio crítico.
Os especialistas recomendam que as mulheres façam regularmente o exame do Papanicolau e priorizem visitas regulares ao ginecologista. No entanto, é importante notar que o Papanicolau não é eficaz para todas as doenças ginecológicas, sublinhando a necessidade de uma abordagem mais abrangente à saúde feminina.
O estudo conclui que melhorar a saúde global, com foco na saúde da mulher, não é apenas uma questão de equidade, mas também de prosperidade económica. Estima-se que colmatar esta lacuna na saúde poderia gerar um impacto equivalente ao acesso de 137 milhões de mulheres a empregos a tempo inteiro até 2040.
PR/HN/MMM
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