O diagnóstico de cancro é um momento devastador que pode abalar todos os planos de vida. No entanto, os avanços médicos dos últimos anos têm oferecido novas perspetivas, especialmente no que diz respeito à maternidade após o cancro. No mês de consciencialização para o cancro da mama, a Dra. Catarina Marques (na imagem), ginecologista do IVI Lisboa, lança um apelo importante às mulheres: não abandonem os sonhos de maternidade e informem-se sobre as opções de preservação da fertilidade.
O cancro da mama, que afeta uma em cada oito mulheres, é o mais comum entre as mulheres, muitas vezes atingindo jovens que ainda planeiam constituir família. Os tratamentos oncológicos, como a radioterapia e a quimioterapia, podem acelerar a diminuição natural da fertilidade, reduzindo as hipóteses de uma gravidez natural. Por isso, é crucial que as mulheres estejam bem informadas sobre as opções para preservar o seu potencial reprodutivo.
“É compreensível que, no momento traumático do diagnóstico, a mulher pense apenas na sobrevivência”, explica a Dra. Catarina Marques. “Por isso, é fundamental que o médico dialogue com a paciente para entender as suas necessidades e sonhos. Se a maternidade fizer parte dos seus planos, o profissional de saúde deve fornecer todas as informações necessárias.”
A evolução da ciência nas últimas duas décadas tem sido notável. Há 15 ou 20 anos, as opções para estas mulheres eram limitadas. Hoje, ser mãe depois do cancro é uma possibilidade real. “Testemunhámos uma grande evolução em todas as áreas, desde a Oncologia à Medicina da Reprodução, o que abre uma janela de esperança”, afirma a Dra. Catarina Marques.
O impacto dos tratamentos na fertilidade pode variar. Depende da intensidade da quimioterapia e radioterapia, da natureza da doença, da saúde reprodutiva antes do diagnóstico e da idade da mulher. É importante notar que, a partir dos 35 anos, a quantidade e qualidade dos ovócitos diminui significativamente, independentemente da presença de uma doença oncológica.
Uma das principais preocupações das pacientes é se a preservação da fertilidade, nomeadamente através da criopreservação de ovócitos, pode interferir negativamente no tratamento do cancro. A Dra. Catarina Marques esclarece que os dados publicados não mostram diferenças nas taxas de sobrevivência entre as pacientes que optaram por congelar ovócitos e as que não o fizeram.
“A estimulação ovárica necessária para este procedimento não afeta a evolução do cancro”, explica a ginecologista. “Os níveis de estrogénio atingidos são semelhantes aos de um ciclo natural. Além disso, a coordenação com a equipa de Oncologia permite controlar os tempos para que este procedimento não interfira com o tratamento oncológico subsequente.”
Outra dúvida comum refere-se às hipóteses de sucesso futuro. A Dra. Catarina Marques explica que os resultados estão diretamente relacionados com a idade da mulher no momento da vitrificação dos ovócitos. Quanto mais jovem for a mulher, maiores serão as suas hipóteses futuras de ser mãe com os seus próprios ovócitos.
Quanto ao momento ideal para tentar engravidar após os tratamentos oncológicos, a médica sublinha que esta decisão deve ser tomada em conjunto com o profissional de saúde, tendo em conta o historial clínico da mulher.
A criopreservação de ovócitos surge assim como uma opção valiosa para preservar a fertilidade antes dos tratamentos oncológicos. Este procedimento permite que as mulheres mantenham vivo o sonho da maternidade, mesmo enfrentando o desafio do cancro.
É importante ressaltar que cada caso é único e requer uma abordagem personalizada. As mulheres diagnosticadas com cancro devem discutir abertamente com os seus médicos todas as opções disponíveis para preservar a fertilidade, considerando os riscos e benefícios de cada abordagem.
A mensagem da Dra. Catarina Marques é clara: o diagnóstico de cancro não deve ser o fim dos sonhos e planos para o futuro. Com o apoio adequado, informação e acesso às tecnologias de reprodução assistida, muitas mulheres podem superar o cancro e ainda realizar o sonho de serem mães.
Este avanço na medicina não só oferece esperança às mulheres que enfrentam o cancro, mas também destaca a importância da abordagem holística no tratamento oncológico, considerando não apenas a sobrevivência, mas também a qualidade de vida futura e a realização dos sonhos pessoais dos pacientes.
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