Um estudo recente realizado pela Universidade de Surrey, em colaboração com a Universidade de Ciências Médicas de Cabul, revelou que 99,73% dos estudantes universitários de medicina no Afeganistão apresentam sintomas de nomofobia – o medo e ansiedade de ficar sem telemóvel. A investigação, conduzida por uma equipa internacional de investigadores, inquiriu 754 estudantes universitários de medicina, maioritariamente com idades entre os 18 e os 29 anos, num país que enfrenta turbulência política e severas restrições à educação das mulheres. Os resultados revelam uma tendência preocupante: os homens experienciam nomofobia moderada a severa (93%) ligeiramente mais do que as mulheres (88%), desafiando estudos anteriores que sugeriam diferentes vulnerabilidades baseadas no género. O estudo também destaca o impacto do estado civil nos níveis de nomofobia, com indivíduos casados a apresentarem pontuações médias mais elevadas em comparação com os solteiros. Esta descoberta inesperada sugere que a dinâmica das relações pessoais e as expectativas sociais no Afeganistão desempenham um papel significativo na formação das experiências de ansiedade relacionadas com o uso de smartphones. Para realizar esta investigação, a equipa utilizou o Questionário de Nomofobia (NMP-Q), uma ferramenta bem estabelecida concebida para medir a gravidade dos sintomas nomofóbicos. A recolha de dados ocorreu entre outubro e dezembro de 2022, através da amostragem de respostas de estudantes da Universidade de Ciências Médicas de Cabul. Os participantes completaram um questionário de 27 itens que avaliava os seus sentimentos e comportamentos em relação ao uso de smartphones, traduzido para Dari, a língua local, para garantir acessibilidade e compreensão. As principais conclusões foram: 54% dos participantes relataram nomofobia moderada 35% exibiram sintomas graves 93% dos homens e 88% das mulheres são nomofóbicos Género, idade e casamento são fatores críticos que influenciam a intensidade da nomofobia As implicações destas descobertas são profundas, particularmente à luz das políticas dos Taliban que restringiram os direitos das mulheres à educação e liberdade. Estas condições intensificaram a dependência dos smartphones, tornando-os não apenas gadgets, mas ferramentas essenciais para sobrevivência e conexão. A investigação apresenta uma perspetiva única para ver a interseção entre tecnologia, saúde mental e contexto sociopolítico no Afeganistão. Com apenas 18,4% da população tendo acesso à internet, combinado com uma acentuada divisão de género no acesso à própria tecnologia, compreender a nomofobia neste cenário é crucial para abordar a saúde mental e o bem-estar social.
NR/HN/Alphagalileo
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