A Integração dos cuidados à pessoa com DPOC: um pilar para a qualidade de vida

25 de Outubro 2024

DPOC afeta 800 mil portugueses e exige cuidados integrados. Especialistas defendem programas de reabilitação contínuos entre hospital e comunidade para melhor qualidade de vida dos doentes

A GOLD (Global Initiative for Obstructive Lung Disease) tem centrado a sua atuação no diagnóstico e tratamento da Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC), atualizando, anualmente, desde 2001, um conjunto de recomendações baseadas na evidência para o diagnóstico, gestão e prevenção da DPOC.
Uma leitura cuidada ao documento permite a identificação de um subtópico sobre educação, autogestão e integração de cuidados, onde os peritos advogam a necessidade de todos os intervenientes na gestão desta doença crónica complexa trabalharem em proximidade, elaborando um programa que defina os componentes/intervenções a implementar e como o fazer para que os cuidados sejam mais eficientes e efetivos.
Na atual organização do sistema de saúde, com um investimento claro nas Unidades Locais de Saúde (ULS), a integração de cuidados às pessoas com DPOC deve ser uma prioridade para profissionais, gestores e responsáveis pelas políticas de saúde.
Segundo dados da Sociedade Portuguesa de Pneumologia esta doença afeta cerca de 800.000 portugueses, sobretudo pessoas com idade superior a 40 anos. A sintomatologia, as exacerbações e as complicações agravam com o envelhecimento. A dispneia, a cronicidade da tosse e a expetoração, per si, alteram a qualidade de vida destas pessoas e progressivamente contribuem para a perda de atividade física e isolamento social.
Em paralelo ao aumento das incapacidades e dependência, emergem desafios complexos aos sistemas de saúde para garantir a qualidade e segurança dos cuidados a estes cidadãos, a prevenção das exacerbações, a diminuição dos reinternamentos e a perda de funcionalidade. A este nível as ULS podem e devem promover a implementação de programas que permitam uma verdadeira continuidade de cuidados entre hospital e comunidade facilitando o cuidado centrado na pessoa, nas suas necessidades e não, única e exclusivamente, na sua doença.
Cientes de que a continuidade de cuidados compreende um conjunto de intervenções complexas e mantidas no tempo, conducentes à melhoria dos cuidados de saúde prestados e, obviamente, a consequente satisfação das pessoas com os cuidados recebidos, consideramos que há espaço e oportunidade para melhorar a oferta, o acesso e a continuidade dos programas de reabilitação em três momentos-chave: antes de a pessoa sair do hospital após internamento/exacerbação da doença; no momento da alta hospitalar; e, por último, no arco cronológico compreendido entre as quarenta e oito horas e os trinta a quarenta e cinco dias após a alta. De salientar que a integração dos cuidados e a definição de um programa de reabilitação que é mantido entre o hospital e a comunidade é uma medida custo-efetiva com impacto claro na qualidade de vidas das pessoas com DPOC, possibilitando um envelhecimento ativo.
A Organização Mundial de Saúde destaca como prática prioritária os cuidados transicionais – que dizem respeito aos momentos de transição hospital-casa, casa-hospital ou até na transição na situação de saúde-doença, que carecem de uma abordagem holística e biopsicossocial para a transição do cuidado e dos programas de reabilitação, com respeito pela cultura onde a pessoa se insere, envolvendo a família/cuidadores e recursos da comunidade.
Este cuidado multidimensional implica a continuidade da relação, da informação, da gestão e da capacitação do próprio cuidador informal. Para tal, é necessária a identificação dos objetivos de saúde dos clientes, o planeamento e implementação de um programa de cuidados de reabilitação, assim como a continuidade de cuidados entre serviços e ao longo do processo de saúde-doença das pessoas com DPOC.
Urge repensar o planeamento da transição dos cuidados nas pessoas com DPOC, especialmente nas de maior idade e mais vulneráveis. Após a alta hospitalar há um elevado potencial de dificuldades na gestão do regime terapêutico, na toma da terapêutica medicamentosa, sobretudo da inalatória, risco acrescido de imobilidade pela dispneia e intolerância ao esforço, muitas das vezes, consequência de períodos de internamento com imobilidade prolongada, o que se traduz em perdas na funcionalidade e qualidade de vida. Acresce que a descontinuidade dos programas de reabilitação tem implicações também nas famílias e na sobrecarga emocional, física e social associada ao papel de cuidador.
A 20 de novembro celebra-se o Dia Mundial da Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica e, mais uma vez, a Associação Portuguesa de Enfermagem de Reabilitação junta-se ao movimento internacional para a sensibilização sobre a doença e as necessidades destes cidadãos, com a realização de diferentes atividades no país que incluem rastreios gratuitos e ações de promoção da saúde.
Deixamos a todos este desafio de centrar os cuidados na pessoa com DPOC, mantendo a continuidade de cuidados e o suporte por parte dos profissionais de saúde para um cuidado custo-efetivo e contribuindo para a sustentabilidade do sistema de saúde.

Helena Pestana em nome da Comissão do Dia Mundial da DPOC da Associação Portuguesa de Enfermeiros de Reabilitação (APER) (Ana Falcão, Ana Temudo, Belmiro Rocha, Cristina Baixinho, Cristina Marques Vieira, Cristina Saraiva, Elisabete Amaral, Júlio Gomes, Maria Varela)

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