São precisas respostas dirigidas aos migrantes com infeções sexualmente transmissíveis

25 de Novembro 2024

Metade das Infeções Sexualmente Transmissíveis (IST) notificadas numa região de Lisboa em 2023 foi de imigrantes e, destes, 36,2% eram lusófonos, de acordo com uma análise de dados a que […]

Metade das Infeções Sexualmente Transmissíveis (IST) notificadas numa região de Lisboa em 2023 foi de imigrantes e, destes, 36,2% eram lusófonos, de acordo com uma análise de dados a que a Lusa teve acesso.

A análise, elaborada por especialistas em saúde pública, levou em conta as doenças registadas no Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SINAVE), que regista as doenças de notificação obrigatória, referentes a uma área de 228.000 pessoas, que vivem em oito freguesias abrangidas pelo ACES de Lisboa Norte, atual Unidade Local de Saúde de Santa Maria.

Entre estas doenças de registo obrigatório constam as IST, que representaram nesse ano 82% dos registos, das quais a análise de dados avaliou as mais significativas: Gonorreia (34%), clamídia (21%), sífilis (12%) e VIH/Sida (6%).

Cerca de metade das IST notificadas (49,1%) correspondiam a cidadãos com nacionalidade portuguesa e os restantes 50,9% a imigrantes.

Da população imigrante, 36,2% eram cidadãos lusófonos, que não portugueses.

“Tendo em conta estes números, faz-nos sentido que haja atenção para a realidade da IST, que haja um investimento em compreender melhor este fenómeno, e que haja respostas dirigidas, particularmente às população mais vulneráveis, como os migrantes”, disse à Lusa Afonso Moreira, médico de saúde pública e delegado de saúde da ULS de Santa Maria, um dos autores da análise.

O clínico ressalvou que os valores também resultam de um aumento das notificações que os médicos têm realizado de IST e de uma maior sensibilidade do próprio sistema de vigilância, que acontece em Portugal, tal como nos restantes países europeus.

Questionado sobre medidas prioritárias, Afonso Moreira disse que estas devem ocorrer ao nível da prevenção primária e secundária, ou seja, evitar que as doenças surjam e a sua transmissão, nomeadamente através do uso do preservativo, e depois a identificação de diagnósticos para a melhor intervenção e em tempo útil.

A enfermeira Ana Fortes, da Unidade de Saúde Pública Francisco George, especialista em saúde comunitária, confirma este aumento das IST, verificado pelos dados.

Este aumento está “muito associado à desresponsabilização das pessoas nos comportamentos sexuais. Considera-se que, como há tratamento, não se precisa de usar preservativo para prevenir as infeções”, disse a co-autora da análise de dados.

“Antigamente, quem vivia com o VIH tinha um diagnóstico de morte a curto, médio prazo, e, neste momento, o tratamento permite uma vida perfeitamente normal e, por não haver efeitos secundários, as pessoas desvalorizaram o risco de ficarem infetadas com o VIH; ao deixarem de usar preservativo pelo VIH, acabaram por ficar mais expostas e de serem infetadas pelas IST”, disse à Lusa.

A enfermeira alertou para as consequências destas doenças, como a infertilidade, problemas de saúde reprodutiva e resistências aos antimicrobianos.

“As pessoas podem ficar infetadas e não se conseguirem tratar, além de transmitirem a infeção e até a infeção resistente”, sublinhou.

Cármen Cunha, da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa e coautora da análise, disse à Lusa que “ser migrante é reconhecido como risco acrescido para contrair IST, junto com atitudes relacionadas com crenças e comportamentos de risco”.

“O enfermeiro, principalmente o enfermeiro de saúde pública e de saúde comunitária, enquanto educador, é apresentado como um exemplo para prestar os esclarecimentos e a informação correta e assim atuar na prevenção das IST, através da literacia, para minimizar a dor, o sofrimento e as consequências causadas pelas mesmas”, observou.

As IST têm ainda um forte impacto ao nível da saúde mental, nomeadamente devido à estigmatização.

NR/HN/Lusa

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