José Pedro Fernandes, Vice-Presidente da SISQUAL® WFM

O futuro da gestão de turnos nos cuidados de saúde: profissionais mais satisfeitos, doentes mais bem atendidos

11/29/2024

Em Portugal, os profissionais de saúde, especialmente enfermeiros e médicos, enfrentam um desafio constante. Aqueles que trabalham em hospitais, centros de saúde e lares de idosos têm uma vida profissional marcada por longos horários de trabalho e turnos de 24 horas que não só dificultam a conciliação da vida familiar, como também afetam a segurança dos doentes. Estas condições, combinadas com o contacto diário com pessoas em situações difíceis, exercem uma forte pressão sobre os profissionais.
Este problema é ainda agravado pelo défice histórico de enfermeiros no sistema de saúde português: no fim do ano passado, havia mais de 78 mil enfermeiros no país, o que corresponde a um rácio de 7,1 enfermeiros por mil habitantes, em comparação com a média europeia de 8,3, de acordo com os dados da OCDE. Este défice, juntamente com o facto de mais de 1.600 enfermeiros terem saído de Portugal no último ano, deixa o setor sob uma pressão insustentável.
A realidade é que esta carga de trabalho acaba por afetar a qualidade dos cuidados e o bem-estar dos próprios enfermeiros. Se alguém acorda todos os dias a sentir-se pouco entusiasmado, desvalorizado e desmotivado, é natural que o seu desempenho e empatia sejam afetados. Esta falta de empenho, embora compreensível, conduz a um absentismo constante, à rotação do pessoal e, em última análise, a uma baixa produtividade. E, no final, o preço é elevado, tanto para o trabalhador como para o sistema de saúde e a sociedade.
Para a maioria dos enfermeiros, a prestação de cuidados é uma vocação. Requer não só competências, mas também uma verdadeira paixão por ajudar e servir. Mas, às dificuldades inerentes ao trabalho, junta-se o peso de horários e turnos que poucas pessoas noutros setores aceitariam.
Gerir equipas num ambiente de cuidados de saúde não é tarefa fácil. Os cuidados são necessários 24 horas por dia, todos os dias do ano. Planear os turnos “à mão”, com horários ou em folhas de cálculo, deixa muitas vezes pouco espaço para a flexibilidade ou para os colaboradores conciliarem a sua vida pessoal com a vida profissional. Muitas vezes, os turnos são impostos, os pedidos de alteração são difíceis de efetuar e cometem-se erros no pagamento de turnos extraordinários.
No entanto, a tecnologia pode ser uma ferramenta essencial para resolver estes problemas, tanto técnicos como humanos. Os sistemas avançados de gestão da força de trabalho não só automatizam as tarefas repetitivas, como também facilitam o planeamento personalizado dos turnos, algo que seria praticamente impossível de fazer manualmente. Com estes sistemas, os enfermeiros podem ver os seus horários em dispositivos móveis, solicitar alterações, trocar turnos com colegas e reservar datas para eventos importantes. Esta flexibilidade contribui diretamente para um melhor equilíbrio entre a vida profissional e pessoal, o que é essencial para a retenção e satisfação dos colaboradores.
Além disso, os sistemas de gestão atuais incluem algoritmos que otimizam a atribuição de turnos com base nas preferências dos colaboradores e nas necessidades das instituições, permitindo uma cobertura eficiente sem a necessidade de turnos extenuantes. Estes algoritmos são capazes de analisar os padrões de procura e ajustar os turnos em tempo real para se adaptarem a situações imprevistas, minimizando o risco de sobrecarga dos profissionais e garantindo que o pessoal certo está sempre disponível.
Estas tecnologias não só melhoram a eficiência e reduzem o absentismo, como também, ao facilitarem o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal e ao reduzirem o stress, humanizam o ambiente de trabalho e melhoram significativamente o ambiente de trabalho nas instituições de saúde. A melhoria das condições de trabalho dos profissionais da saúde é essencial para travar o êxodo dos enfermeiros e restaurar a estabilidade do sistema, porque não se trata apenas de uma questão de números, mas também de dignificar o trabalho daqueles que, com vocação e esforço, sustentam o nosso sistema de saúde dia após dia.

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