José Aranda da Silva, farmacêutico e membro dos corpos sociais da Fundação para a Saúde, apresentou hoje uma reflexão profunda sobre o estado atual e os desafios futuros do sistema de saúde português. A sua intervenção ocorreu durante a apresentação do Relatório do Observatório da Fundação Nacional de Saúde, no Auditório João Lobo Antunes da Faculdade de Medicina de Lisboa.
Aranda da Silva começou por destacar a importância do trabalho realizado pelo Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS), referindo-se à sua experiência pessoal na elaboração de um relatório anterior.
O orador enfatizou o carácter único e enriquecedor da experiência de trabalhar no OPSS, descrevendo-o como um grupo diversificado e multidisciplinar. “Foi uma experiência extremamente rica”, afirmou, “porque reuniu um grupo variado de profissionais, incluindo médicos, doutorados e académicos, cada um trazendo perspetivas únicas para o projeto”.
Aranda da Silva sublinhou a diferença fundamental entre a abordagem do OPSS e a visão puramente académica. Enquanto a academia se concentra no rigor metodológico e na produção de conhecimento teórico, o OPSS procura uma compreensão mais prática e orientada para as realidades do terreno. Esta abordagem, segundo o orador, permite uma visão mais abrangente e holística dos sistemas de saúde.
Refletindo sobre a evolução do sistema de saúde português nas últimas duas décadas, Aranda da Silva observou o impacto significativo das mudanças ocorridas, salientando a importância de considerar não apenas os aspetos técnicos e organizacionais, mas também as experiências e perspetivas dos utentes. “É fundamental ouvir o que se passa no terreno”, afirmou, sublinhando a necessidade de uma abordagem centrada no doente.
O farmacêutico recordou a iniciativa dos “Estados Gerais da Saúde”, um evento que permitiu ouvir centenas de pessoas de todo o país, desde Braga até ao Algarve. Esta iniciativa, segundo ele, foi crucial para obter uma visão mais completa e diversificada dos desafios enfrentados pelo sistema de saúde português. Aranda da Silva sublinhou a importância de considerar as perspetivas dos doentes, que muitas vezes oferecem insights valiosos e diferentes da dos profissionais de saúde.
Abordando o tema da regulação no setor da saúde, Aranda da Silva mencionou a necessidade de uma abordagem mais flexível e adaptável defendendo que o contexto atual exige uma resposta diferente e mais ágil por parte das entidades reguladoras. “Precisamos de uma maior simplicidade na avaliação dos serviços de saúde”, afirmou, sugerindo que isto tornaria o processo mais transparente e acessível para todos os envolvidos.
O orador também refletiu sobre o papel do Serviço Nacional de Saúde (SNS) no contexto atual. Reconhecendo as mudanças significativas ocorridas desde a fundação do SNS, Aranda da Silva defendeu a necessidade de uma adaptação contínua às novas realidades sociais e económicas, enfatizando que o sistema de saúde deve evoluir para responder eficazmente às necessidades em constante mudança da população portuguesa.
Aranda da Silva enfatizou também a importância de uma abordagem mais integrada e colaborativa na gestão do sistema de saúde, sugerindo ser necessário um maior diálogo entre diferentes setores – público, privado e social – para enfrentar os desafios complexos que o sistema de saúde enfrenta. “Precisamos de soluções inovadoras que transcendam as fronteiras tradicionais entre setores”, afirmou.
O farmacêutico também abordou a questão da sustentabilidade do sistema de saúde, defendendo que, para garantir a viabilidade a longo prazo do SNS, é crucial encontrar um equilíbrio entre a qualidade dos cuidados prestados e a eficiência na utilização dos recursos. Aranda da Silva defendeu a importância de investir em prevenção e promoção da saúde, argumentando que estas estratégias podem reduzir significativamente os custos a longo prazo.
Concluindo a sua intervenção, José Aranda da Silva reiterou a importância do trabalho contínuo de observação e análise realizado pelo OPSS, enfatizando que este tipo de estudo é fundamental para informar políticas de saúde baseadas em evidências e para promover um debate público informado sobre o futuro do sistema de saúde português.
O orador terminou com um apelo à ação, instando todos os presentes – profissionais de saúde, decisores políticos e cidadãos – a se envolverem ativamente na melhoria contínua do sistema de saúde. “O futuro do nosso sistema de saúde depende da participação ativa e do compromisso de todos nós”, concluiu Aranda da Silva, deixando uma mensagem de esperança e determinação para enfrentar os desafios futuros.
MMM
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