A saúde mental e as condições de trabalho dos enfermeiros

10 de Janeiro 2025

Os resultados do estudo “NursesMH#Survey2024”, apoiado pela Ordem dos Enfermeiros (OE), hoje divulgados, demonstram que os enfermeiros portugueses enfrentam níveis devastadores de desgaste físico e mental. 74,3% percecionam negativamente a sua saúde mental, 30% apresentam sintomas de depressão grave e 45% reportam sofrer de pelo menos uma doença física ou mental.

O estudo revela que os enfermeiros portugueses estão a atingir o limite da exaustão: 91,4% enfrentam disfunção social e quase 20% recorrem regularmente a ansiolíticos e antidepressivos. Este cenário é agravado pela falta de 14 mil enfermeiros no Serviço Nacional de Saúde (SNS), uma carência estrutural que compromete a qualidade dos cuidados de saúde.

A sobrecarga de trabalho, associada a turnos sucessivos, ausência de descanso adequado e contratos precários, está a colocar os enfermeiros sob uma pressão inaceitável. Metade dos enfermeiros trabalha mais de 70 horas semanais, e 50% não tem fins de semana livres. Estas condições não são apenas questões laborais que afetam a saúde dos profissionais, também comprometem a segurança e o bem-estar dos doentes.

O Bastonário da Ordem dos Enfermeiros, Luís Filipe Barreira, diz que “o Ministério da Saúde já tinha mostrado abertura à proposta da Ordem dos Enfermeiros de fazer um levantamento urgente das necessidades do SNS e de criar um plano estruturado de contratação de enfermeiros, substituindo os contratos precários de curta duração, por vínculos estáveis e dignos. Precisamos começar este caminho o mais rápido possível.”

A OE considera que são necessárias ainda outras medidas concretas, tais como o reconhecimento da enfermagem como profissão de risco e desgaste rápido, a implementação de um subsídio de risco e a antecipação da idade da reforma. É preciso também que haja um acesso efetivo a apoio psicológico, bem como medidas de equilíbrio entre vida pessoal e profissional, assegurando a proteção física e emocional dos enfermeiros.

O estudo hoje divulgado está, aliás, alinhado com os resultados do estudo “Enfermeiros: Vida e Trabalho”, publicado pela Ordem dos Enfermeiros em 2023, bem como com as insistentes recomendações de diversas organizações internacionais aos países, como a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Organização Mundial de Saúde (OMS) e International Council of Nurses (ICN).

A Ordem dos Enfermeiros apela ao Governo que tome as medidas adequadas para inverter este problema e disponibiliza-se para colaborar na sua definição e implementação. Sem enfermeiros saudáveis e motivados, o sistema de saúde não pode cumprir a sua missão.

NR/OE/HN

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