Um estudo publicado na revista Cell, liderado por Mark Gerstein da Universidade de Yale, com participação do Professor Diego Garrido Martín da Universidade de Barcelona, revela o potencial dos smartwatches na compreensão de doenças cerebrais e distúrbios comportamentais.
A investigação utilizou dados recolhidos por smartwatches de mais de 5.000 adolescentes entre os 9 e 14 anos, incluindo medições de frequência cardíaca, gasto calórico, intensidade de atividade física, contagem de passos e qualidade do sono. Estes dados foram processados e utilizados para treinar modelos de inteligência artificial capazes de prever a presença de diferentes doenças psiquiátricas.
Os investigadores propõem o termo “fenótipo digital” para descrever características que podem ser medidas e rastreadas com ferramentas digitais como os smartwatches. Esta abordagem permite utilizar os dados como uma ferramenta de diagnóstico ou biomarcador, estabelecendo uma ponte entre a doença e a genética.
A equipa descobriu que a frequência cardíaca era a medida mais importante para prever o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), enquanto a qualidade e os estágios do sono eram mais relevantes para identificar a ansiedade.
Além de prever doenças psiquiátricas, o estudo investigou se o fenótipo digital poderia ajudar a identificar fatores genéticos subjacentes. Utilizando ferramentas estatísticas multivariadas, os investigadores conseguiram analisar simultaneamente a relação entre a genética e as diferentes medidas fornecidas pelos smartwatches.
Esta metodologia permitiu identificar 37 genes associados ao TDAH, um resultado que não foi possível obter através da análise tradicional baseada apenas no diagnóstico clínico. Esta descoberta destaca o valor acrescentado da utilização de dados contínuos dos smartwatches.
Os resultados do estudo estabelecem uma ligação entre doenças psiquiátricas, fenótipos digitais e genótipos, demonstrando como os sensores vestíveis podem proporcionar uma compreensão mais profunda das doenças psiquiátricas.
Embora o estudo se tenha concentrado no TDAH e na ansiedade, os investigadores esperam que esta abordagem seja amplamente aplicável, podendo ser útil para compreender doenças neurológicas ou neurodegenerativas. A equipa espera que as suas descobertas possam servir de inspiração para ir além dos diagnósticos clínicos tradicionais, adotando medições comportamentais quantitativas que podem ser de maior utilidade na identificação de biomarcadores genéticos.
Referência: Liu, Jason J.; Borsari, Beatrice et al. «Digital phenotyping from wearables using 1 AI characterizes psychiatric disorders and identifies genetic associations». Cell, December 2024. DOI: 10.1101/2024.09.23.24314219
NR/HN/Alphagalileo
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