Esquizofrenia associada a défice na deteção de contraste, aponta estudo da UB

28 de Janeiro 2025

Investigadores da Universidade de Barcelona identificaram um défice na perceção de contraste em pessoas com esquizofrenia, o que pode ajudar a desvendar disfunções neurais e servir como biomarcador não invasivo para o diagnóstico ou monitorização da doença.

Legenda da imagem:  os investigadores Cristina de la Malla and Daniel Linares

Um estudo realizado por investigadores da Universidade de Barcelona (UB) revelou que pessoas com esquizofrenia apresentam uma capacidade alterada de perceção visual de contraste, o que pode fornecer pistas importantes sobre os mecanismos neurais e computacionais subjacentes a esta doença mental. Publicado na revista Schizophrenia Bulletin, o artigo, assinado pelos investigadores Daniel Linares e Cristina de la Malla, juntamente com a estudante de mestrado Aster Joostens, analisou mais de 600 estudos e identificou que estes doentes têm dificuldade em detetar diferenças na intensidade luminosa entre áreas adjacentes, uma habilidade crucial para reconhecer formas, texturas e detalhes no ambiente.

A esquizofrenia, que afeta cerca de 1% da população mundial, é caracterizada por alterações no pensamento e comportamento, como perda de contacto com a realidade, delírios ou alucinações. No entanto, também estão presentes anomalias na perceção de estímulos visuais, como défices na perceção de cor ou contraste. Segundo a equipa de investigação, a perceção de contraste é uma das habilidades visuais mais fundamentais, uma vez que, sem ela, a capacidade de interagir adequadamente com o ambiente fica comprometida, afetando tarefas quotidianas como movimentação no espaço, reconhecimento de rostos ou leitura.

Os mecanismos neurais envolvidos nesta alteração podem estar relacionados com os níveis de glutamato, um neurotransmissor que desempenha um papel central na patogénese da doença. “Uma redução neste neurotransmissor pode levar a uma diminuição da atividade neural nas áreas do cérebro responsáveis pelo processamento de contraste”, explicam os especialistas. Assim, a sensibilidade ao contraste pode ser uma ferramenta valiosa para identificar doentes com esquizofrenia que apresentam disfunções mais pronunciadas neste sistema, podendo estes ser candidatos ideais para ensaios clínicos com fármacos que atuem especificamente na sinalização glutamatérgica.

No entanto, os investigadores alertam que a disfunção na perceção de contraste pode ser influenciada por outros fatores, como a medicação antipsicótica. “Identificámos uma relação com a dose de medicação administrada, sugerindo que o défice pode ser, pelo menos em parte, um efeito colateral do tratamento”, referem. Além disso, a falta de atenção durante os testes, comum em doentes com esquizofrenia, pode também contribuir para os resultados observados, uma vez que nenhum dos estudos revistos considerou este fator.

Para confirmar se o défice é diretamente causado pela doença e explorar o seu potencial como biomarcador de psicose, os investigadores sublinham a necessidade de mais estudos com desenhos experimentais que permitam separar défices de atenção de alterações perceptivas. Atualmente, a equipa está a medir a sensibilidade ao contraste em doentes com encefalite anti-NMDAR, uma doença que também apresenta sintomas psicóticos, utilizando um paradigma que inclui testes de controlo para monitorizar a atenção.

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