Saliva ativa coagulação em pessoas com hemofilia A

8 de Fevereiro 2025

Um estudo recente liderado pela Universidade Médica de Viena revelou que a saliva contém vesículas especiais que desencadeiam a rápida coagulação do sangue em pacientes com hemofilia A. A investigação, publicada na revista científica "Blood", oferece novas perspetivas sobre os mecanismos de coagulação nesta doença hereditária, contribuindo significativamente para uma melhor compreensão da patologia.

A equipa de investigação, liderada por Johannes Thaler e Cihan Ay da Divisão Clínica de Hematologia e Hemostaseologia do Departamento de Medicina I da Universidade Médica de Viena, em colaboração com Rienk Nieuwland da Universidade de Amsterdão, descobriu que a saliva de pacientes com hemofilia A contém complexos de tenase extrínsecos localizados em vesículas. Estes complexos proteicos, compostos por dois fatores de coagulação (fator tecidual TF e fator VIIa), iniciam a ativação da cascata de coagulação quando entram em contacto com o sangue.

As análises confirmaram que as hemorragias da mucosa oral nestes pacientes são, de facto, raras e param rapidamente. Os pacientes sem este complexo proteico na saliva carecem deste mecanismo protetor, sofrendo frequentemente de hemorragias na mucosa oral.

Esta descoberta baseia-se em pesquisas históricas sobre a importância dos fluidos corporais na coagulação, inicialmente descritas na década de 1930 pelo pediatra vienense Alphons Solé. Solé demonstrou que o leite materno era um forte ativador da coagulação, utilizando-o com sucesso para tratar hemorragias agudas em pacientes com hemofilia. Estas descobertas, embora confirmadas por investigadores independentes, foram esquecidas durante décadas.

A equipa atual reviveu esta pesquisa histórica, demonstrando que as propriedades coagulantes do leite materno, líquido amniótico, urina e agora também da saliva se devem à presença de vesículas extracelulares com complexos de tenase extrínsecos.

Estes resultados fornecem informações importantes sobre os mecanismos de coagulação e contribuem para uma melhor compreensão da hemofilia A. Além disso, destacam a importância de reavaliar trabalhos científicos históricos para desenvolver abordagens inovadoras na investigação e, potencialmente, no tratamento direcionado de pacientes.

O estudo abre novas possibilidades para a compreensão e tratamento da hemofilia A, uma doença que historicamente apresentava uma expectativa de vida média de apenas oito anos para os pacientes. Com estes avanços, espera-se que novas estratégias terapêuticas possam ser desenvolvidas, melhorando significativamente a qualidade de vida dos pacientes com esta condição.

Bibliografia: Blood
Saliva of persons with hemophilia A triggers coagulation via extrinsic tenase complexes.
Johannes Thaler, Carla Tripisciano, Daniel Kraemmer, Chi Hau, Nazanin Samadi, Wolfram Ruf, Ingrid Pabinger, Paul Knöbl, Rienk Nieuwland, Cihan Ay.;  https://doi.org/10.1182/blood.2024025093

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