Uma das soluções é a digitalização completa dos cuidados de saúde. Por isso iniciativas como o Espaço Europeu de Dados de Saúde (EHDS) serão cruciais nesta transformação e devem ser implementadas o mais rapidamente possível.
“Prevê-se que, em 2050, a UE tenha 38,1 milhões de pessoas a necessitar de cuidados, sendo que a procura já excede a capacidade dos profissionais e das instalações de cuidados2. Para fazer face ao aumento do número de doentes, sobretudo idosos, e ao declínio do número de profissionais de saúde, será necessário melhorar significativamente a eficiência através da digitalização”, afirma Marta Passadouro, Ecosystem Lead para Portugal, EIT Health InnoStars.
O papel do EHDS na modernização dos cuidados de saúde
O Espaço Europeu de Dados de Saúde (EHDS) é uma iniciativa inovadora concebida para recolher e gerir dados de saúde, tais como resultados de exames médicos, de forma a garantir um acesso continuo às instalações médicas em toda a UE, salvaguardando simultaneamente a privacidade dos doentes. As vantagens são evidentes:
– Maior precisão nos diagnósticos: uma melhor recolha e utilização dos dados de saúde permite aos médicos compreender melhor o estado de saúde dos doentes, o que conduz a diagnósticos mais exatos.
– Eficiência de custos: A Comissão Europeia estima que a aplicação do EHDS poderá poupar 11 mil milhões de euros aos Estados-Membros da UE durante a próxima década, graças a uma gestão mais eficiente dos cuidados de saúde.
– Apoio ao envelhecimento da população: O Eurostat prevê que a população da UE atinja o pico em 2026, com o número de idosos a aumentar dos atuais 90 milhões para 130 milhões em meados do século.
Mais doentes, menos médicos
A crise demográfica na Europa tem causas complexas e exige soluções multifacetadas. Embora a migração possa ajudar a atenuar a escassez de mão de obra, não é uma solução completa para as funções que exigem competências especializadas.
“Em Portugal, as elevadas taxas de emigração entre os profissionais de saúde, as reformas significativas e as crescentes exigências de uma população envelhecida indicam que a escassez de mão de obra no sector da saúde irá persistir3. Prevê-se que a procura de mão de obra adicional nos serviços de saúde aumente 11% nas próximas décadas”, explicou Marta Passadouro, Ecosystem Lead para Portugal, EIT Health InnoStars.
O Fórum Económico Mundial salienta que as alterações demográficas são graduais e não representam um colapso imediato, pelo que os líderes têm a oportunidade de redesenhar os sistemas de saúde. Isto significa criar um quadro mais inclusivo e virado para o futuro que mude o foco do tratamento para os cuidados de saúde holísticos.
“Durante anos, ouvimos dizer que a prevenção é mais barata do que o tratamento. As próximas décadas podem obrigar-nos a aplicar este princípio em grande escala. Se as camas dos hospitais escassearem, temos de nos esforçar por manter os idosos fora dos hospitais e garantir que as suas doenças são diagnosticadas suficientemente cedo para serem tratadas com medicamentos bem escolhidos. As tecnologias digitais serão cruciais para prestar bons cuidados a este grupo”, afirma Marta Passadouro, Ecosystem Lead para Portugal, EIT Health InnoStars.
Saúde digital, melhores cuidados
A digitalização nos cuidados de saúde não significa substituir os trabalhadores por IA ou robôs – um equívoco comum – mas sim aumentar a eficiência através da automatização de tarefas repetitivas e da utilização de ferramentas digitais, tais como:
– Gestão de doenças crónicas: Os algoritmos e as ferramentas digitais podem simplificar a monitorização e a análise regulares dos doentes com doenças crónicas, libertando os profissionais de saúde para se concentrarem nos cuidados aos doentes.
– Telemedicina: As soluções remotas permitem que os doentes efectuem auto-avaliações utilizando dispositivos especializados. Os resultados podem ser analisados por algoritmos avançados e as teleconsultas podem dar resposta a necessidades urgentes.
– Dados de saúde integrados: A consolidação dos dados de saúde dos doentes num sistema único e seguro permite uma melhor prevenção, um tratamento personalizado e uma prestação de cuidados mais eficiente.
Diagnósticos mais exatos e tratamentos mais eficazes
Para que a digitalização melhore a eficiência dos cuidados de saúde, terá de existir um sistema consistente, facilmente acessível e seguro para recolher e utilizar os dados. É aqui que entra em ação a EHDS. Consagrada nos regulamentos da UE, a EHDS será implementada em todos os Estados-Membros nos próximos anos.
“A UE não impõe prazos específicos aos países para avançarem na digitalização dos cuidados de saúde ou criarem infraestruturas compatíveis com a EHDS. No entanto, a demografia já está a pressionar os países europeus a agir. O EHDS pode desempenhar um papel crucial na resposta aos desafios do envelhecimento das sociedades, melhorando a coordenação dos cuidados de saúde, otimizando os custos dos tratamentos e apoiando a investigação e a inovação”, afirma Mafalda Carvalho, Clinical Innovation Director from ULS Santa Maria. “Temos de reconhecer que, com menos médicos e mais idosos a necessitar de cuidados, precisamos de soluções para aumentar a eficiência do sistema. Uma delas é a digitalização, que facilita o acesso a dados médicos em toda a UE, a diagnósticos mais exatos e a tratamentos mais eficazes. Felizmente, o quadro organizacional já está criado; só precisamos de o implementar”.
Ao facilitar o acesso aos dados médicos em toda a UE, o EHDS apoia diagnósticos exatos, tratamentos eficazes e uma abordagem mais coordenada dos cuidados de saúde. Isto não só reduz os custos de tratamento dos doentes, como também melhora significativamente a prevenção dos cuidados de saúde. Ao fazê-lo, o EHDS pode ajudar a transformar os sistemas de saúde, garantindo que estão preparados para enfrentar os desafios de uma população envelhecida.”
NR/PR/HN
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