Espaço Europeu de Dados de Saúde pode transformar a prestação de cuidados e otimizar os custos, afirma especislista do EIT Health.

17 de Fevereiro 2025

As previsões indicam que mais de um terço da população portuguesa terá mais de 65 anos em 20501.  Esta mudança demográfica, em conjunto com as carências e o envelhecimento da mão de obra no sector da saúde, gerará uma crise no Sistema Nacional de Saúde.

Uma das soluções é a digitalização completa dos cuidados de saúde. Por isso iniciativas como o Espaço Europeu de Dados de Saúde (EHDS) serão cruciais nesta transformação e devem ser implementadas o mais rapidamente possível.

“Prevê-se que, em 2050, a UE tenha 38,1 milhões de pessoas a necessitar de cuidados, sendo que a procura já excede a capacidade dos profissionais e das instalações de cuidados2.  Para fazer face ao aumento do número de doentes, sobretudo idosos, e ao declínio do número de profissionais de saúde, será necessário melhorar significativamente a eficiência através da digitalização”, afirma Marta Passadouro, Ecosystem Lead para Portugal, EIT Health InnoStars.

O papel do EHDS na modernização dos cuidados de saúde

O Espaço Europeu de Dados de Saúde (EHDS) é uma iniciativa inovadora concebida para recolher e gerir dados de saúde, tais como resultados de exames médicos, de forma a garantir um acesso continuo às instalações médicas em toda a UE, salvaguardando simultaneamente a privacidade dos doentes. As vantagens são evidentes:

– Maior precisão nos diagnósticos: uma melhor recolha e utilização dos dados de saúde permite aos médicos compreender melhor o estado de saúde dos doentes, o que conduz a diagnósticos mais exatos.

– Eficiência de custos: A Comissão Europeia estima que a aplicação do EHDS poderá poupar 11 mil milhões de euros aos Estados-Membros da UE durante a próxima década, graças a uma gestão mais eficiente dos cuidados de saúde.

– Apoio ao envelhecimento da população: O Eurostat prevê que a população da UE atinja o pico em 2026, com o número de idosos a aumentar dos atuais 90 milhões para 130 milhões em meados do século.

Mais doentes, menos médicos

A crise demográfica na Europa tem causas complexas e exige soluções multifacetadas. Embora a migração possa ajudar a atenuar a escassez de mão de obra, não é uma solução completa para as funções que exigem competências especializadas.

“Em Portugal, as elevadas taxas de emigração entre os profissionais de saúde, as reformas significativas e as crescentes exigências de uma população envelhecida indicam que a escassez de mão de obra no sector da saúde irá persistir3. Prevê-se que a procura de mão de obra adicional nos serviços de saúde aumente 11% nas próximas décadas”, explicou Marta Passadouro, Ecosystem Lead para Portugal, EIT Health InnoStars.

O Fórum Económico Mundial salienta que as alterações demográficas são graduais e não representam um colapso imediato, pelo que os líderes têm a oportunidade de redesenhar os sistemas de saúde. Isto significa criar um quadro mais inclusivo e virado para o futuro que mude o foco do tratamento para os cuidados de saúde holísticos.

“Durante anos, ouvimos dizer que a prevenção é mais barata do que o tratamento. As próximas décadas podem obrigar-nos a aplicar este princípio em grande escala. Se as camas dos hospitais escassearem, temos de nos esforçar por manter os idosos fora dos hospitais e garantir que as suas doenças são diagnosticadas suficientemente cedo para serem tratadas com medicamentos bem escolhidos. As tecnologias digitais serão cruciais para prestar bons cuidados a este grupo”, afirma Marta Passadouro, Ecosystem Lead para Portugal, EIT Health InnoStars.

Saúde digital, melhores cuidados

A digitalização nos cuidados de saúde não significa substituir os trabalhadores por IA ou robôs – um equívoco comum – mas sim aumentar a eficiência através da automatização de tarefas repetitivas e da utilização de ferramentas digitais, tais como:

– Gestão de doenças crónicas: Os algoritmos e as ferramentas digitais podem simplificar a monitorização e a análise regulares dos doentes com doenças crónicas, libertando os profissionais de saúde para se concentrarem nos cuidados aos doentes.

– Telemedicina: As soluções remotas permitem que os doentes efectuem auto-avaliações utilizando dispositivos especializados. Os resultados podem ser analisados por algoritmos avançados e as teleconsultas podem dar resposta a necessidades urgentes.

– Dados de saúde integrados: A consolidação dos dados de saúde dos doentes num sistema único e seguro permite uma melhor prevenção, um tratamento personalizado e uma prestação de cuidados mais eficiente.

Diagnósticos mais exatos e tratamentos mais eficazes

Para que a digitalização melhore a eficiência dos cuidados de saúde, terá de existir um sistema consistente, facilmente acessível e seguro para recolher e utilizar os dados. É aqui que entra em ação a EHDS. Consagrada nos regulamentos da UE, a EHDS será implementada em todos os Estados-Membros nos próximos anos.

“A UE não impõe prazos específicos aos países para avançarem na digitalização dos cuidados de saúde ou criarem infraestruturas compatíveis com a EHDS. No entanto, a demografia já está a pressionar os países europeus a agir. O EHDS pode desempenhar um papel crucial na resposta aos desafios do envelhecimento das sociedades, melhorando a coordenação dos cuidados de saúde, otimizando os custos dos tratamentos e apoiando a investigação e a inovação”, afirma Mafalda Carvalho, Clinical Innovation Director from ULS Santa Maria. “Temos de reconhecer que, com menos médicos e mais idosos a necessitar de cuidados, precisamos de soluções para aumentar a eficiência do sistema. Uma delas é a digitalização, que facilita o acesso a dados médicos em toda a UE, a diagnósticos mais exatos e a tratamentos mais eficazes. Felizmente, o quadro organizacional já está criado; só precisamos de o implementar”.

Ao facilitar o acesso aos dados médicos em toda a UE, o EHDS apoia diagnósticos exatos, tratamentos eficazes e uma abordagem mais coordenada dos cuidados de saúde. Isto não só reduz os custos de tratamento dos doentes, como também melhora significativamente a prevenção dos cuidados de saúde. Ao fazê-lo, o EHDS pode ajudar a transformar os sistemas de saúde, garantindo que estão preparados para enfrentar os desafios de uma população envelhecida.”

NR/PR/HN

 

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