Descoberto novo mecanismo de resistência bacteriana à água oxigenada

6 de Março 2025

Investigadores do ITQB NOVA identificaram um mecanismo que permite à bactéria Listeria monocytogenes sobreviver à água oxigenada, utilizada em processos de higienização e pelo sistema imunitário.

nvestigadores do Instituto de Tecnologia Química e Biológica António Xavier da Universidade Nova de Lisboa (ITQB NOVA) fizeram uma descoberta revolucionária no campo da microbiologia e segurança alimentar. Num estudo publicado na revista Free Radical Biology and Medicine, a equipa desvendou um novo mecanismo que permite à bactéria Listeria monocytogenes resistir ao peróxido de hidrogénio, comumente conhecido como água oxigenada.

A Listeria monocytogenes é responsável pela listeriose, uma doença de origem alimentar que, apesar de relativamente rara, apresenta uma taxa de hospitalização elevada e é a terceira principal causa de morte por doenças transmitidas por alimentos na Europa. Esta bactéria é particularmente problemática devido à sua capacidade de proliferar em temperaturas de refrigeração e resistir a processos de limpeza e desinfeção convencionais.

O estudo liderado pelo ITQB NOVA identificou a proteína Hfq como a chave deste mecanismo de resistência. Esta proteína liga-se ao RNA mensageiro (mRNA) das bactérias, estabilizando as instruções para a produção de moléculas que decompõem a água oxigenada em água e oxigénio inofensivos. Cecília Arraiano, responsável pelo Laboratório de Controlo da Expressão Génica do ITQB NOVA, compara este processo a um projeto de construção, onde o DNA atua como arquiteto e o RNA como o intérprete que traz os materiais necessários.

André Seixas, estudante de doutoramento e primeiro autor do artigo, explica que a Hfq desempenha um papel crucial na proteção das bactérias contra níveis elevados de água oxigenada, um antisséptico amplamente utilizado na indústria alimentar e também produzido pelo sistema imunitário humano como mecanismo de defesa.

A equipa de investigação, liderada por José Marques Andrade, explorou ainda a possibilidade de inativar a proteína Hfq. Os resultados foram promissores: na ausência desta proteína, as bactérias tornaram-se altamente vulneráveis ao peróxido de hidrogénio, tanto em testes laboratoriais como no interior das células imunitárias.

Esta descoberta tem implicações significativas não só para a segurança alimentar, mas também para a saúde pública. Ao revelar um novo fator na resposta da L. monocytogenes ao stress, o estudo abre caminho para o desenvolvimento de novas estratégias de controlo que visem especificamente a proteína Hfq. Tais estratégias poderiam tornar a bactéria mais vulnerável ao sistema imunitário, desinfetantes e antibióticos, representando um avanço importante na luta contra as infeções bacterianas.

PR/HN/MM

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