Estas condições de saúde afetam milhões de pessoas em Portugal, com consequências não apenas físicas, mas também emocionais e sociais. Estima-se que 1 em cada 4 europeus vive com uma doença crónica. Em Portugal, mais de 1 milhão de pessoas vivem com diabetes, e todos os anos mais de 25 mil portugueses sofrem um AVC. A obesidade afeta quase 1 em cada 3 adultos.
Pessoas com doenças crónicas têm uma probabilidade 2 a 3 vezes superior de desenvolver problemas de saúde psicológica, como a depressão, do que a população geral.
“Viver com uma doença crónica implica mais do que gerir sintomas físicos — exige um trabalho psicológico contínuo. Reconhecer e cuidar da saúde mental destas pessoas é uma responsabilidade de todos: profissionais de saúde, decisores políticos e sociedade em geral”, defende Sofia Ramalho, Bastonária da Ordem dos Psicólogos Portugueses
A intervenção psicológica pode ajudar a lidar com o diagnóstico, promover a aceitação, desenvolver estratégias de adaptação e melhorar a qualidade de vida. Contudo, o acesso a este apoio continua limitado.
“O número de psicólogos no SNS é manifestamente insuficiente para dar resposta às necessidades de quem vive com doença crónica. É fundamental que o Governo reforce o número de psicólogos, garantindo cuidados acessíveis e integrados desde o diagnóstico. E mesmo antes é essencial que se aposte na prevenção, o que deveria ser feito nos cuidados de saúde primários”, explica a Bastonária da Ordem dos Psicólogos Portugueses.
O que podemos sentir quando vivemos com doença crónica?
É natural que nos possamos sentir ansiosos perante a necessidade de novos cuidados de saúde, por exemplo, medicamentos e tratamentos para gerir a dor e outros sintomas, bem como para prevenir o agravamento da doença.
Por vezes, podemos sentir-nos isolados, tristes ou revoltados perante os impactos e as perdas associadas à doença. Por exemplo, a perda de autonomia porque sentimos dor ou porque algumas funções como a fala, a mobilidade ou a memória estão afetadas; a perda da liberdade em fazer certas coisas, como comer alguns alimentos ou realizar determinadas atividades que poderiam piorar a nossa condição de Saúde; a perda da possibilidade de fazer planos a longo prazo porque estamos dependentes de tratamentos e não sabemos como a doença irá progredir.
Mesmo sabendo que a evolução da doença não depende de nós, podemos sentir-nos culpados e/ou envergonhados quando os sintomas agravam e nos vemos obrigados a cancelar planos com outras pessoas ou a desistir de objetivos que eram importantes para nós.
Podemos ainda sofrer com preocupações financeiras, uma vez que a doença crónica implica, frequentemente, gastos acrescidos com cuidados de saúde.
A experiência de viver com uma doença crónica pode trazer grandes mudanças à nossa vida e até alterar a perceção que temos de nós próprios. Podemos passar de uma identidade associada à saúde (“sou uma pessoa saudável”) para uma identidade associada à doença (“sou uma pessoa doente”). A doença crónica pode ainda intensificar a consciência que temos do nosso corpo (por exemplo, estarmos constantemente alerta de sintomas físicos), levar-nos a sentir menos capazes e a reavaliar os nossos objetivos pessoais e profissionais, bem como afetar as nossas relações interpessoais.
“Vamos Falar Sobre Doenças Crónicas” está disponível aqui.
NR/PR/HN
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