Quase todos os doentes com patologias respiratórias poderiam beneficiar de programas de reabilitação respiratória, mas em Portugal menos de 1% tem acesso a esta intervenção, segundo dados da Sociedade Portuguesa de Pneumologia. A reabilitação respiratória é um tratamento não farmacológico, centrado na educação sobre a doença e no treino de exercício físico, que visa melhorar a autogestão, reduzir sintomas, aumentar a tolerância ao esforço, diminuir a necessidade de cuidados de saúde e, em última análise, reduzir a mortalidade. Os benefícios são especialmente evidentes em doentes com doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), mas também se estendem a patologias como asma, bronquiectasias, doenças do interstício pulmonar, cancro do pulmão e doenças da pleura234.
Apesar da robusta evidência científica, a reabilitação respiratória permanece subutilizada. Em Portugal, menos de 0,5% dos doentes com indicação para este tratamento têm acesso aos programas disponíveis, um valor muito aquém das necessidades identificadas234. Entre as principais barreiras ao acesso estão o financiamento insuficiente, o desconhecimento generalizado sobre os benefícios da reabilitação por parte de profissionais de saúde e doentes, a escassez de programas disponíveis e dificuldades logísticas como o transporte para sessões presenciais.
A pandemia de COVID-19 agravou ainda mais esta realidade, com o encerramento temporário de muitos serviços e uma diminuição da capacidade de resposta, ao mesmo tempo que aumentava o número de candidatos devido a sequelas respiratórias da infeção. Para inverter este cenário, especialistas defendem o aumento da oferta de programas, nomeadamente em formatos comunitários, domiciliários e via telemedicina, a sensibilização dos profissionais de saúde e da população, e o reforço do financiamento e da formação específica.
A reabilitação respiratória é reconhecida como uma das intervenções mais custo-eficazes no tratamento das doenças respiratórias, superando inclusive algumas terapêuticas farmacológicas, e é recomendada nas principais orientações clínicas internacionais. No entanto, a sua implementação em Portugal continua a ser um desafio, com a maioria dos doentes privados de um tratamento que poderia transformar a sua qualidade de vida e prognóstico.
PR/HN/MM
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