Resistência à malária torna-se mais complexa e desafia tratamentos

25 de Abril 2025

Investigação internacional com cientistas da UMinho revela que a resistência da malária resulta de múltiplas alterações genéticas, dificultando o tratamento e ameaçando a eficácia da piperaquina, crucial em África.

Uma equipa internacional de cientistas, incluindo investigadores da Universidade do Minho, demonstrou que a resistência do parasita da malária aos fármacos é mais complexa do que se pensava, devendo-se a múltiplas alterações genéticas e não apenas a uma mutação isolada. O estudo, publicado na revista Nature Communications, reforça a teoria avançada em 2020 pelo grupo de Pedro Ferreira e Isabel Veiga, do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde da UMinho, sobre o papel dos genes plasmepsina e mdr1 na resistência ao tratamento1.

A pesquisa focou-se na resistência à piperaquina, um medicamento essencial no combate à malária, mostrando que variações no gene plasmepsina 3 estão associadas à redução da eficácia da combinação di-hidroartemisinina-piperaquina. Esta situação aumenta o risco de recorrência da doença, sobretudo entre crianças africanas, onde a malária é endémica e mais letal. O tratamento repetido com piperaquina, devido à sua permanência prolongada no organismo, pode acelerar a adaptação do parasita, tornando o medicamento menos eficaz, especialmente em contextos de uso preventivo em crianças e grávidas.

Os investigadores alertam que as estratégias atuais de vigilância, centradas em mutações individuais, podem ser insuficientes para monitorizar e controlar a resistência. O estudo sublinha a necessidade de métodos mais avançados para acompanhar a evolução genética do parasita e adaptar as terapias, sugerindo que futuras combinações de antimaláricos devem ter perfis farmacocinéticos semelhantes para retardar o desenvolvimento de resistência.

O trabalho foi coordenado pelo Instituto Karolinska (Suécia) e envolveu vinte cientistas de instituições de Portugal, Reino Unido, Alemanha, Mali, Gabão e Brasil. A equipa prepara-se agora para testar alternativas profiláticas, como a combinação de sulfadoxina-pirimetamina, em alternância com a piperaquina, com o objetivo de manter a proteção sem acelerar a resistência.

A divulgação do estudo coincide com o Dia Mundial da Luta contra a Malária, a 25 de abril, numa altura em que a doença continua a afetar milhões: em 2023, registaram-se 263 milhões de casos e 597 mil mortes em 83 países, sendo a África responsável por 95% das infeções, com especial incidência em crianças até aos cinco anos.

PR/HN/MM

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