Estudo revela ligação significativa entre epilepsia e demência frontotemporal

3 de Junho 2025

Novo estudo finlandês revela que a epilepsia é significativamente mais comum em doentes com demência frontotemporal do que se pensava, podendo surgir até dez anos antes do diagnóstico desta demência, e destaca a importância de rastrear e tratar crises epiléticas nestes pacientes.

Uma investigação de grande escala coordenada pelo Neurocenter Finland, envolvendo a Universidade da Finlândia Oriental e a Universidade de Oulu, revelou que a epilepsia é muito mais prevalente em doentes com demência frontotemporal (FTD) do que se estimava até agora. O estudo, publicado na revista JAMA Neurology, analisou os registos clínicos de 12.490 pessoas tratadas nos hospitais universitários de Kuopio e Oulu entre 2010 e 2021, identificando 245 casos de FTD e 1.326 de Alzheimer, além de um grupo de controlo saudável.

A equipa, liderada pela médica e investigadora Annemari Kilpeläinen, especialista em neurologia, avaliou a prevalência de epilepsia desde dez anos antes até cinco anos após o diagnóstico de demência. Os resultados mostram que, cinco anos após o diagnóstico de FTD, cerca de 11% dos pacientes tinham epilepsia, valor substancialmente superior ao observado em doentes com Alzheimer ou em pessoas saudáveis. Além disso, verificou-se que, em alguns casos, as crises epiléticas surgiam até uma década antes da identificação da demência, sendo a sua incidência superior em todos os estágios analisados da doença, em comparação com dados internacionais prévios.

A investigação destaca ainda que o uso de medicamentos antiepilépticos era mais frequente entre os doentes com FTD, reforçando a fiabilidade dos resultados. Contudo, o diagnóstico de epilepsia nestes pacientes pode ser dificultado pela semelhança dos sintomas entre as duas patologias, o que pode levar a subdiagnóstico e atrasos no tratamento. A ausência de tratamento adequado pode agravar significativamente o estado clínico dos doentes.

Segundo Eino Solje, professor associado, diretor da UEF Brain Research Unit e investigador principal do projeto, “identificar a epilepsia é fundamental, pois o seu tratamento pode melhorar a capacidade funcional e a qualidade de vida dos pacientes”. Solje acrescenta que a nova evidência levanta questões sobre possíveis mecanismos patofisiológicos partilhados entre epilepsia e FTD, sugerindo que algumas manifestações da demência poderão estar relacionadas com alterações específicas na atividade elétrica cerebral.

Este estudo insere-se num projeto multidisciplinar que conjuga dados reais de doentes com registos únicos, envolvendo colaboração entre diferentes áreas científicas, da medicina ao direito. Os hospitais de Kuopio e Oulu integram a rede europeia EpiCARE, reconhecida pela excelência em investigação e tratamento da epilepsia.

Referência: Kilpeläinen, A., Aaltonen, M., Aho, K., Heikkinen, S., Kivisild, A., Lehtonen, A., Leppänen, L., Rinnankoski, I., Soppela, H., Tervonen, L., Hartikainen, P., Haapasalo, A., Kälviäinen, R., Katisko, K., Krüger, J., Solje, E. (2025). The Prevalence of Epilepsy in Frontotemporal Dementia and its Relationship to Timing of Dementia Diagnosis. JAMA Neurology, https://doi.org/10.1001/jamaneurol.2025.1358

NR/HN/Alphagalileo

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